quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do tempo: Memórias desportivas da fronteira. Equipe Feminina do Athenas Esporte Clube. “As meninas de ouro”.

*Yhulds Giovani Pereira Bueno.


Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. “Herodoto”.

   Para compreendermos o presente precisamos realizar uma análise de fatos do passado, pois a história parece ser muitas vezes ensinada como um constante crescente de progresso, isto é, o passado tende a ser concebido como deficitário como atrasado em relação ao presente.

   Resgatar tais fatos, estes gravados nas memórias de tantos cidadãos da região fronteiriça, que em seu tempo puderam vivenciar situações que direta e indiretamente contribuíram para a evolução sociopolítica, cultural e desportiva de Ponta Porã. Permite compreender certas conquistas atuais, podendo ser citada a liberdade e maior participação das mulheres em eventos desportivos que antes era somente permitido a homens, estas lutas que se iniciaram no passado, hoje permite a novas gerações desfrutar livremente destas conquistas.

   Realizando uma retrospectiva de eventos históricos, voltamos ao ano de 1965. O Brasil estava em plena ditadura militar, não diferente a fronteira de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero vivenciava esse estilo de Governo e suas influências na sociedade, refletindo na maneira comportamental das pessoas.

   Nos grandes centros brasileiros, como em vários lugares espalhados pelo mundo, muitos manifestos ocorriam em busca de direitos nos mais variados níveis sociais, a população sempre estava em busca de maior participação nas politicas sociais, de poder exercer um papel maior no desenvolvimento sócio cultural, nesses embalos, as mulheres também estavam sempre buscando sua participação mais efetiva dentro da sociedade, direitos iguais em uma sociedade que na época era puramente machista, se hoje as mulheres e a população em geral tem uma maior participação, liberdade sem censura, pode se dizer que isso acontece graças ao pioneirismo de tantos em outros tempos, que através de suas atitudes visionárias quebram paradigmas e tabus em busca de realizar seus ideais.


   Vamos realizar um resgate deste período através do relato de quem participou efetivamente como atleta desta equipe feminina do Athenas Esporte Clube. A senhora Vergínia Cuevas Pereira.

Arquivo pessoal de Vergínia Cuevas Pereira: Alunas do Colégio Paroquial São José, meados da década de 60 séc. XX. Turma do 4º ano primário juntamente com a professora freira, irmã Margarida Maria.

   A Senhora Vergínia relembra que o “Athenas” fora criado no ano de 1965, uma equipe de futebol de salão feminino formada por alunas do Colégio Paroquial São José com idade entre 15 e 16 anos, o idealizador dessa façanha nesses tempos foi o professor Isaac Borges Capillé ou como era chamado carinhosamente por todos como professor (borjinho) isso devido a sua estatura, “borjinho” desportista, sendo membro atuante da Liga Desportiva Municipal de Ponta Porã, como no meio sócio político da fronteira, figura pública respeitada por todos em seu tempo, fora ele o idealizador da letra do hino de Ponta Porã. 

Imagem da fachada da antiga Escola Paroquial São José, década de 60, entrada que se localizava na Avenida Brasil.

   Com o apoio da direção da escola que nessa época tinha como diretor o Padre Thomaz e treinadas por um dos melhores atletas desses tempos da região fronteiriça, conhecido por “careca”. 


Arquivo pessoal de Gilberto Amarilha: Francisco Brandão ou “Chico Bera”, Gilberto Amarilha ”Giba” e Careca década de 70.

   A Equipe do Athenas Esporte Clube treinava na quadra que se localizava nesse tempo na área reservada para práticas esportivas no fundo do Colégio Paroquial São José, onde hoje se encontra as quadras de esportes da Escola Mace & São José, na divisa com as dependências da Igreja Matriz São José, era uma quadra pequena nesses tempos rodeada com arquibancadas de madeira, os treinos ocorriam durante o dia, pois se tratando de moças todo cuidado tinha que ser tomado, o uniforme era short vermelho e camiseta branca estilo regata (sem mangas) com símbolo da equipe bordado, a senhora Vergínia ressalta que a aluna de nome Telma irmã do desportista da época conhecido pelo apelido de “Tetéco”, esse fora fundador da equipe do Operário Esporte Clube da região de fronteira. Telma que incentivou as demais meninas a participar da equipe que estava sendo formada pelo professor “Borjinho”, como nesses tempos uma equipe feminina era algo inusitado, fora do padrão moral e cultural da sociedade, a mesma causaria um grande alvoroço na região. A senhora Vergínia relembra de alguns nomes, como da Giselda Brandão, Joana de Souza Lima e da própria Telma.

   A senhora Vergínia segue relembrando que em época de jogo a quadra ficava sempre cheia para assistir os jogos, que tinham como adversárias as equipes do país vizinho Paraguai principalmente de Pedro Juan Caballero, cidades vizinhas da região fronteiriça e da cidade de Campo Grande, em suas lembranças à senhora “Vergínia” menciona com saudosismo que a equipe do Athenas nunca perdeu um jogo que participou, pode ser que tenha sido pela presença sempre cativa do Padre Thomaz, que nunca deixava de ir a aos jogos das meninas do Athenas tendo sempre a mão um grande e belo terço.

   Padre Thomaz sempre incentivou a prática desportiva principalmente a equipe feminina, sempre exigindo respeito de quem comparecia para assistir os jogos, outro grande incentivador que participava dos jogos o Padre Pedro.

   Esse pioneirismo deu inicio a uma série de eventos e práticas desportivas voltadas ao público feminino na região fronteiriça. Um fato ficou gravado em sua memória, foi o fim da equipe do Athenas se deu segundo relato da senhora Vergínia quando a equipe fora convidada para participar de um campeonato na cidade de Penápolis Estado de São Paulo, para isso as atletas deveriam ter autorização dos pais ou responsáveis e do Juiz da comarca de Ponta Porã, aconteceu que o Juiz da época não deferiu a favor da viajem das meninas alegando que as mesmas eram menores, e a prática deste esporte traria prejuízos como varizes e formas físicas um tanto masculinas as meninas, por esse motivo o professor Isaac Borges Capillé “Borjinho” (in memórian), não teve alternativa a não ser terminar com a equipe para evitar conflitos com os contras da época, mas outras já estavam sendo criadas na cidade e região.

   Graças a essas pioneiras do Athenas Esporte Clube em seu tempo que de certa forma abriu portas, incentivando outras a participarem de esportes que antes era exclusivo do universo masculino.
Fico feliz em poder resgatar esse fato, e mencionar uma das protagonistas desta equipe do Athenas, minha mãe Verginia Cuevas Pereira, que tenho um grande orgulho de ser filho e sempre seguir minha vida através de seus ensinamentos.

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. Membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.


Um comentário:

  1. Em 1972 eu terminava de cursar o quarto ano do ensino primario ,no colegio Mendes Gonçalves e realizei o curso do programa de Admissão para o Quinto ano Colegial e isto seria no Colegio Paroquial São Jose,,e realmente nesta Época o Prof. professor Isaac Borges Capillé “Borjinho” éra o nosso Professor de Educação fisica,,e o Padre Pedro é ra O Diretor do Colegio Paroquial....e o Padre Thomas faziam Parte da Igreja Redentorista São Jose onde fiz o meu curso de catequese e aos Domingos na missa eu tinha o Prazer de Tocar o Sino da Igreja...que tinha tambem o Lendario Django,,uma figura muito caricata da época....Que lembranças otima...

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