* Yhulds Giovani Pereira Bueno.
Causo é estória, algo
contado em beira de uma bela fogueira onde todos estão sentados em troncos de
árvores, causo pode até ser uma lenda, mais é baseada em fatos vividos por
pessoas simples da lida do campo do interior de outros tempos, onde a crença era
diferente respeitada, causo é assunto de fim de noite com a família ou de
reunião de amigos, o fato é que acredita quem quer, mas na dúvida ninguém paga
para ver se é verdade ou não só mais um causo da região.
Essa é a lenda de um
violeiro que andou nessa fronteira há muito tempo atrás, homem bem apessoado de
fino trato como se dizia antigamente, época que para escutar uma boa música
tinha que convidar ou ir onde tinha um bom tocador de violão, quem tinha essa
habilidade musical era muito requisitado, em reuniões e festas, pois rádio
nesse tempo na fronteira não existia, nem ao menos luz elétrica havia nesses
tempos, a luz era o do sol ou da lua, mas Dom Alejandro segundo relatos de quem
cresceu escutando suas façanhas cercadas de mistérios tinha esse talento, além
dos demais tocadores de viola ou violão, elegante e galanteador, por esse
motivo dezenas de pessoas se reuniam ao seu redor, mas quem dele um pouco
conhecia através de causos contados, conta sua estória há muito tempo esquecida
na fronteira. Vamos fazer um resgate de um destes causos cercados de fatos
intrigantes.
Dom Alejandro quando
novo aprendeu tocar violão, mas conta lenda que repentinamente ele se tornou um
exímio tocador de violão e também aprendeu outros atributos, entre eles, de ler
a sorte e adivinhar o futuro, esses feitos em outros tempos eram cercados de
mistérios algo que muitos preferiam não comentar.
O fato que ele fazia
nesses tempos muito sucesso na fronteira, tanto do lado do Brasil em Ponta Porã
que era uma pequena vila, de poucas casas e Pedro Juan Caballero que tinha uma
vida social, mas agitada, ele também era chamado para tocar nas campanhas (estâncias
ou fazendas) naqueles tempos, ninguém nem mesmo a família soube ao certo como
ele adquiriu tanto conhecimento em áreas um tanto ocultas, e ninguém se atrevia
a perguntar mesmo por que ele não falava a respeito e só realizava a leitura de
sorte ou futuro quando queria e de quem ele queria, ou seja, nem todos tinham o
privilegio de ser atendido por Dom Alejandro.
Mas o mistério seria
parcialmente desvendado quando, certo dia ele foi contratado para tocar, a
festa seria em uma fazenda distante o trajeto era feito em lombo de cavalo por
picadas, atravessando caraguatá (fruta) e chirca (planta erva daninha) lugar
também de muitos espinhos de uma longa distância, para não ir só ele convidou
outros dois amigos que às vezes o acompanhava nos bailes da região, o
contratante que segundo a lenda era um homem misterioso chegara ao anoitecer, todo
de vestimenta preta e um belo cavalo com detalhes de prata, veio ao seu
encontro para acompanha-lo, após o longo trajeto tarde da noite chegaram ao
local da festa, conta a história: a casa que era grande sem janelas no meio da
mata, quando chegaram a casa estava vazia o dono misterioso então ditou as
regras, comece a tocar quando o primeiro galo cantar, o galo branco, continue
tocando e cantando até o segundo galo cantar, o galo vermelho e você terá uma
surpresa quando o terceiro galo cantar, o galo preto.
Dom Alejandro
estranhando o fato concordou já imaginando o que poderia acontecer, ao escutar
o canto do galo começaram a tocar e cantar, o estranho é que convidados ali não
tinha nem barulho de pessoas, Dom Alejandro temeroso sussurrou para seus
companheiros vamos tocar só musicas sacras amigos! Quando começaram a tocar eis que o homem
misterioso gritou ao fundo, que pensam que estão fazendo! Parem, e toque outra
música, essa não! Exclamou o homem que estranhamente mudara de forma, seus pés
e suas mãos tinha a forma de pé de galos com três dedos os “três cantos”, assustados
os três violeiros perceberam que uma movimentação estranha acontecia, eis que
de repente o salão estava cheio de pessoas um tanto esquisitas, com a mesma
forma do tal homem, o dono veio ao meio do salão olhando a Dom Alejandro
exclamou quero que leia minha sorte! E adivinhe meu futuro! E diga quem eu sou!
Rapidamente dom Alejandro começou a tocar novamente a música sacra como nunca
tinha tocado, seus amigos o acompanharam mesmo assustados com que acontecia, eis
que a fúria tomou conta do salão, até que um grito ensurdecedor acompanhado de
um clarão, e despareceram como se nada tivesse acontecido, segundo contam Dom
Alejandro e seus amigos continuaram cantando no meio da mata, e foram
encontrados dias depois saindo do caraguatá. Contaram o acontecido a todos da
região.
Passou os anos, até que
em certo dia um homem pela fronteira andava a procurar Dom Alejandro,
perguntando onde poderia encontra-lo, esse homem alto todo de vestimenta preta
montado em um belo cavalo com detalhes prateados de voz grave e olhar
intimidador, é fato que o homem encontrou Dom Alejandro e segundo o causo
contado por quem cresceu ouvindo essa lenda que o homem novamente pediu para
ele ler sua sorte, adivinhar seu futuro e dizer quem ele era, o mistério segue
que os dois ficaram trancados dentro da sala da casa de Dom Alejandro que
pedira para sua mãe sair e esperar do lado de fora, e o que se ouvia era o
homem exclamando leia ou devolva o que é meu e Dom Alejandro dizendo eu não
leio e nem adivinho sorte de ninguém e muito menos de você, nunca mais.
Depois deste
acontecimento pegou tudo que tinha colocou em uma caixa e seguiu em direção à
mata, sabe-se que ele enterrou seus segredos dentro daquela caixa em algum
lugar desta fronteira, em baixo da raiz de uma grande figueira, sua mãe curiosa
para saber o que o filho faria com a caixa o seguiu, ao perceber Dom Alejandro
olhou para mãe e disse mãe nunca mexa ou queira saber o que tem aqui dentro,
esqueça esse local se quiser teu filho vivo e salvo, depois disso nunca mais
tocou como antes e seu encanto se acabou. Se for verdade ou não, muitos daquele
tempo diziam que ele tinha feito um pacto, e quando foi cobrado ele quebrou o
pacto e por isso foi tirado dele tudo que tinha.
A lenda do violeiro foi
passada de geração a geração, um tanto esquecida nos dias de hoje, lembradas
por poucos descendentes destas épocas distintas de nossa fronteira, onde hoje pouco
espaço tem para os causos de outros tempos, onde a fé o respeito eram virtudes
a serem preservados. Lembrar-se do passado e preservar o futuro.
Pesquisador: Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional,
gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor da Rede
Municipal de Educação. Membro da diretoria executiva e do Grupo Xiru do CTG –
Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.
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