quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do tempo: Causos e lendas do folclore da fronteira, o violeiro


* Yhulds Giovani Pereira Bueno.



   Causo é estória, algo contado em beira de uma bela fogueira onde todos estão sentados em troncos de árvores, causo pode até ser uma lenda, mais é baseada em fatos vividos por pessoas simples da lida do campo do interior de outros tempos, onde a crença era diferente respeitada, causo é assunto de fim de noite com a família ou de reunião de amigos, o fato é que acredita quem quer, mas na dúvida ninguém paga para ver se é verdade ou não só mais um causo da região.

   Essa é a lenda de um violeiro que andou nessa fronteira há muito tempo atrás, homem bem apessoado de fino trato como se dizia antigamente, época que para escutar uma boa música tinha que convidar ou ir onde tinha um bom tocador de violão, quem tinha essa habilidade musical era muito requisitado, em reuniões e festas, pois rádio nesse tempo na fronteira não existia, nem ao menos luz elétrica havia nesses tempos, a luz era o do sol ou da lua, mas Dom Alejandro segundo relatos de quem cresceu escutando suas façanhas cercadas de mistérios tinha esse talento, além dos demais tocadores de viola ou violão, elegante e galanteador, por esse motivo dezenas de pessoas se reuniam ao seu redor, mas quem dele um pouco conhecia através de causos contados, conta sua estória há muito tempo esquecida na fronteira. Vamos fazer um resgate de um destes causos cercados de fatos intrigantes.

   Dom Alejandro quando novo aprendeu tocar violão, mas conta lenda que repentinamente ele se tornou um exímio tocador de violão e também aprendeu outros atributos, entre eles, de ler a sorte e adivinhar o futuro, esses feitos em outros tempos eram cercados de mistérios algo que muitos preferiam não comentar.
O fato que ele fazia nesses tempos muito sucesso na fronteira, tanto do lado do Brasil em Ponta Porã que era uma pequena vila, de poucas casas e Pedro Juan Caballero que tinha uma vida social, mas agitada, ele também era chamado para tocar nas campanhas (estâncias ou fazendas) naqueles tempos, ninguém nem mesmo a família soube ao certo como ele adquiriu tanto conhecimento em áreas um tanto ocultas, e ninguém se atrevia a perguntar mesmo por que ele não falava a respeito e só realizava a leitura de sorte ou futuro quando queria e de quem ele queria, ou seja, nem todos tinham o privilegio de ser atendido por Dom Alejandro.

   Mas o mistério seria parcialmente desvendado quando, certo dia ele foi contratado para tocar, a festa seria em uma fazenda distante o trajeto era feito em lombo de cavalo por picadas, atravessando caraguatá (fruta) e chirca (planta erva daninha) lugar também de muitos espinhos de uma longa distância, para não ir só ele convidou outros dois amigos que às vezes o acompanhava nos bailes da região, o contratante que segundo a lenda era um homem misterioso chegara ao anoitecer, todo de vestimenta preta e um belo cavalo com detalhes de prata, veio ao seu encontro para acompanha-lo, após o longo trajeto tarde da noite chegaram ao local da festa, conta a história: a casa que era grande sem janelas no meio da mata, quando chegaram a casa estava vazia o dono misterioso então ditou as regras, comece a tocar quando o primeiro galo cantar, o galo branco, continue tocando e cantando até o segundo galo cantar, o galo vermelho e você terá uma surpresa quando o terceiro galo cantar, o galo preto.

   Dom Alejandro estranhando o fato concordou já imaginando o que poderia acontecer, ao escutar o canto do galo começaram a tocar e cantar, o estranho é que convidados ali não tinha nem barulho de pessoas, Dom Alejandro temeroso sussurrou para seus companheiros vamos tocar só musicas sacras amigos!  Quando começaram a tocar eis que o homem misterioso gritou ao fundo, que pensam que estão fazendo! Parem, e toque outra música, essa não! Exclamou o homem que estranhamente mudara de forma, seus pés e suas mãos tinha a forma de pé de galos com três dedos os “três cantos”, assustados os três violeiros perceberam que uma movimentação estranha acontecia, eis que de repente o salão estava cheio de pessoas um tanto esquisitas, com a mesma forma do tal homem, o dono veio ao meio do salão olhando a Dom Alejandro exclamou quero que leia minha sorte! E adivinhe meu futuro! E diga quem eu sou! Rapidamente dom Alejandro começou a tocar novamente a música sacra como nunca tinha tocado, seus amigos o acompanharam mesmo assustados com que acontecia, eis que a fúria tomou conta do salão, até que um grito ensurdecedor acompanhado de um clarão, e despareceram como se nada tivesse acontecido, segundo contam Dom Alejandro e seus amigos continuaram cantando no meio da mata, e foram encontrados dias depois saindo do caraguatá. Contaram o acontecido a todos da região.

   Passou os anos, até que em certo dia um homem pela fronteira andava a procurar Dom Alejandro, perguntando onde poderia encontra-lo, esse homem alto todo de vestimenta preta montado em um belo cavalo com detalhes prateados de voz grave e olhar intimidador, é fato que o homem encontrou Dom Alejandro e segundo o causo contado por quem cresceu ouvindo essa lenda que o homem novamente pediu para ele ler sua sorte, adivinhar seu futuro e dizer quem ele era, o mistério segue que os dois ficaram trancados dentro da sala da casa de Dom Alejandro que pedira para sua mãe sair e esperar do lado de fora, e o que se ouvia era o homem exclamando leia ou devolva o que é meu e Dom Alejandro dizendo eu não leio e nem adivinho sorte de ninguém e muito menos de você, nunca mais.

   Depois deste acontecimento pegou tudo que tinha colocou em uma caixa e seguiu em direção à mata, sabe-se que ele enterrou seus segredos dentro daquela caixa em algum lugar desta fronteira, em baixo da raiz de uma grande figueira, sua mãe curiosa para saber o que o filho faria com a caixa o seguiu, ao perceber Dom Alejandro olhou para mãe e disse mãe nunca mexa ou queira saber o que tem aqui dentro, esqueça esse local se quiser teu filho vivo e salvo, depois disso nunca mais tocou como antes e seu encanto se acabou. Se for verdade ou não, muitos daquele tempo diziam que ele tinha feito um pacto, e quando foi cobrado ele quebrou o pacto e por isso foi tirado dele tudo que tinha.

   A lenda do violeiro foi passada de geração a geração, um tanto esquecida nos dias de hoje, lembradas por poucos descendentes destas épocas distintas de nossa fronteira, onde hoje pouco espaço tem para os causos de outros tempos, onde a fé o respeito eram virtudes a serem preservados. Lembrar-se do passado e preservar o futuro.

Pesquisador: Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor da Rede Municipal de Educação. Membro da diretoria executiva e do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.


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