segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do Tempo: A Grande Figueira no tempo das comitivas e tropeiros, no início do povoamento da fronteira.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno

   Tempo determinante para a vida, mas que não tem piedade passa muitas das vezes despercebido no mundo atual, pois quase ninguém tem mais tempo, mas todos precisam de tempo. Como definir o tempo? Tal definição precisa de uma análise profunda de fatos, dados, momentos, períodos, datas e horas, para isso precisaria de muito tempo de pesquisa, no dicionário tempo e definido da seguinte forma: (duração de fatos e suas variantes de acordo com emprego da palavra, o mesmo pode ter vários significados).

   Fatos e histórias que são esquecidas, perdidas no tempo, protagonistas de seu tempo esquecidos ao passar dos anos no tempo, mas ainda se faz lembrado na memória de muitos fronteiriços que viveram ou descende de quem viveu nesses tempos, de uma fronteira diferente de casas e costumes que foram se perdendo no tempo, mas resgatados graças aos causos que são repassados as novas gerações através do tempo.

   Muitos viajantes passaram por essa fronteira, a exemplo da família Ribeiro, Vargas, Silva e Bueno, um destes migrantes o patriarca Roberto da Silva Bueno juntamente com sua esposa Maria Rodrigues e filhos, um deles o senhor Gumercindo Bueno, outra família era composta por Zeferino Vargas e sua esposa Bernadina Ribeiro, que viajavam com seus filhos e filhas uma delas Ramona Ribeiro Vargas, ambas as famílias oriundas do sul do país eram integrantes destas comitivas e tropeiros que chegavam e partiam da região, tais famílias tinham como parada final a região de Rincão de Julho próximo a Sanga Puitã (que significa córrego vermelho) e Rio Verde do Sul que se localiza próximo a Taji (tagy), e a antiga Colônia Dutra, hoje Município de Aral Moreira.


Foto de 1919 de Luiz Alfredo M. Magalhães. Publicada no livro um Homem de Seu Tempo, uma biografia de Aral Moreira, “intensa movimentação das carretas ervateiras”. Isso se deu no início do século na região fronteiriça, onde muitos desbravadores oriundos das mais diversas localidades e regiões do Brasil, principalmente do Sul do país, iniciaram seus cultivos e criações, nas estancias (fazendas) que estavam se formando na fronteira. 


   Neste período histórico a região da figueira era ponto de parada, descanso para esses viajantes, tais eventos eram ligados a emigrações e migrações na maioria do sul do país, diversas famílias deixavam sua terra natal para firmar parada na região fronteiriça, meses de viagem até o seu destino final.

   A antiga figueira que existia na área da Prefeitura Municipal de Ponta Porã, na Rua Antonio João, nesta época existia neste local, duas grandes figueiras entre outras árvores, um banhado e um poço que era utilizado pelos viajantes e tropeiros que ali erguiam seu acampamento para descansar dar de beber aos cavalos e seguir viaje no dia seguinte.

   Durante a parada, as famílias se misturavam de certa forma entre si e com os tropeiros e viajantes, pois no local durante a noite se acendia a fogueira, e sempre um bom contador de causo para descontrair todos, tinha um que tocava uma viola ou acordeom e logo começava o Pericom (dança popular do fandango).

“Pericón, é dança característica dos gaúchos argentinos, uruguaios e rio-grandenses-do-sul, na Argentina sempre foi considerada dança tipicamente, nacional. A música é composta em compasso terrário, com movimento vivo, e a dança tem grande semelhança com a quadrilha, com pequena variação na movimentação dos passos”. SEREJO, Hélio. Pialando...No Mas. Pág. 21.

   Certos entreveros (brigas desavenças) ocorriam à turma do “deixa disso” sempre aparecia para apaziguar e separar os mais exaltados, mas hora ou outra a desavença mexia com a honra da família, pois a cachaça era bebida liberada para aquecer a noite, e quando subia à cabeça as desavenças e morte ocorriam, por ter no local uma donzela que viajava com as famílias, muitas delas lindas moças sulistas, correntinhas, a peonada perdia a cabeça, e desonra era lavada com sangue, a justiça era feita na hora o malfeitor se conseguisse se safar do tiro ou punhal, era condenado à forca e a mesma era esticada na grande figueira, onde o “dito cujo” era dependurado para que servisse de alerta a outros que se atrevessem a agir de forma alheia a moral e bons costumes, segundo causo antigo alguns dos enforcados nas figueiras, eram enterrados ali por perto mesmo, ou em uma espécie de cemitério próximo.

   Um causo antigo diz que existia nesta região da figueira, uma casa de damas da noite, essas casas surgiram principalmente depois da guerra do Paraguai, muitas viúvas tiveram que seguir nesta vida para poder sobreviver, isso também servia de atrativo para que os viajantes e tropeiros utilizassem este local como parada, já que perto existia tal casa para alegrar a noite da peonada. Tal fato foi relatado no livro de REIS, Elpídio, Ponta Porã Polca, Churrasco e Chimarrão. Pag. 56.

“Nem todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.

   Com o passar dos anos e o progresso chegando à fronteira a urbanização e construção de novas residências forçou a retirada de tal casa como o ponto de parada dos viajantes e tropeiros do local, ficando afastada da área central.

   Por anos a relatos de fronteiriços antigos que em certa hora da noite quem passasse por baixo da figueira ou próximo da mesma, vez ou outra avistava o espirito (fantasma) de um enforcado na figueira, vozes e gritos eram escutados também, por anos tais aparições foram comentadas na fronteira, mesmo no tempo que ali era o campo da figueira, muitos relatos de pessoas que avistaram o espirito do enforcado eram mencionado em causos na região.

   Com a construção do Paço Municipal e da Escola Estadual Joaquim Murtinho, a urbanização, a rede de luz elétrica chegando a todas as casas, o fato das novas gerações desconhecerem tais acontecimentos, a lenda do enforcado da figueira se perdeu no tempo.

   Com a queda da grande figueira, muitos antigos moradores da região fronteiriça alegam que tal fato se deu pelo peso das almas dos espíritos dos enforcados de outros tempos. Esse mistério se foi com a queda da figueira.

   O resgate de fatos épicos que ficaram esquecidos no tempo se faz necessário para relembrar de eventos que marcaram o povoamento da região fronteiriça no inicio do século XX, desta forma proporcionando a novas gerações conhecimento sobre suas raízes sócias, históricas e culturais, pois um povo sem memória e um povo sem história. 


   Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor Coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.








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