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Yhulds
Giovani Pereira Bueno
Tempo
determinante para a vida, mas que não tem piedade passa muitas das vezes
despercebido no mundo atual, pois quase ninguém tem mais tempo, mas todos
precisam de tempo. Como definir o tempo? Tal definição precisa de uma análise
profunda de fatos, dados, momentos, períodos, datas e horas, para isso
precisaria de muito tempo de pesquisa, no dicionário tempo e definido da
seguinte forma: (duração de fatos e suas variantes de acordo com emprego da
palavra, o mesmo pode ter vários significados).
Fatos
e histórias que são esquecidas, perdidas no tempo, protagonistas de seu tempo
esquecidos ao passar dos anos no tempo, mas ainda se faz lembrado na memória de
muitos fronteiriços que viveram ou descende de quem viveu nesses tempos, de uma
fronteira diferente de casas e costumes que foram se perdendo no tempo, mas
resgatados graças aos causos que são repassados as novas gerações através do
tempo.
Muitos
viajantes passaram por essa fronteira, a exemplo da família Ribeiro, Vargas,
Silva e Bueno, um destes migrantes o patriarca Roberto da Silva Bueno
juntamente com sua esposa Maria Rodrigues e filhos, um deles o senhor
Gumercindo Bueno, outra família era composta por Zeferino Vargas e sua esposa
Bernadina Ribeiro, que viajavam com seus filhos e filhas uma delas Ramona
Ribeiro Vargas, ambas as famílias oriundas do sul do país eram integrantes
destas comitivas e tropeiros que chegavam e partiam da região, tais famílias
tinham como parada final a região de Rincão de Julho próximo a Sanga Puitã (que
significa córrego vermelho) e Rio Verde do Sul que se localiza próximo a Taji
(tagy), e a antiga Colônia Dutra, hoje Município de Aral Moreira.
Foto de 1919 de Luiz Alfredo M. Magalhães. Publicada
no livro um Homem de Seu Tempo, uma biografia de Aral Moreira, “intensa
movimentação das carretas ervateiras”. Isso se deu no início do século na
região fronteiriça, onde muitos desbravadores oriundos das mais diversas
localidades e regiões do Brasil, principalmente do Sul do país, iniciaram seus
cultivos e criações, nas estancias (fazendas) que estavam se formando na
fronteira.
Neste
período histórico a região da figueira era ponto de parada, descanso para esses
viajantes, tais eventos eram ligados a emigrações e migrações na maioria do sul
do país, diversas famílias deixavam sua terra natal para firmar parada na
região fronteiriça, meses de viagem até o seu destino final.
A
antiga figueira que existia na área da Prefeitura Municipal de Ponta Porã, na
Rua Antonio João, nesta época existia neste local, duas grandes figueiras entre
outras árvores, um banhado e um poço que era utilizado pelos viajantes e
tropeiros que ali erguiam seu acampamento para descansar dar de beber aos
cavalos e seguir viaje no dia seguinte.
Durante
a parada, as famílias se misturavam de certa forma entre si e com os tropeiros
e viajantes, pois no local durante a noite se acendia a fogueira, e sempre um
bom contador de causo para descontrair todos, tinha um que tocava uma viola ou
acordeom e logo começava o Pericom (dança popular do fandango).
“Pericón, é dança
característica dos gaúchos argentinos, uruguaios e rio-grandenses-do-sul, na
Argentina sempre foi considerada dança tipicamente, nacional. A música é
composta em compasso terrário, com movimento vivo, e a dança tem grande
semelhança com a quadrilha, com pequena variação na movimentação dos passos”.
SEREJO, Hélio. Pialando...No Mas. Pág. 21.
Certos
entreveros (brigas desavenças) ocorriam à turma do “deixa disso” sempre
aparecia para apaziguar e separar os mais exaltados, mas hora ou outra a
desavença mexia com a honra da família, pois a cachaça era bebida liberada para
aquecer a noite, e quando subia à cabeça as desavenças e morte ocorriam, por
ter no local uma donzela que viajava com as famílias, muitas delas lindas moças
sulistas, correntinhas, a peonada perdia a cabeça, e desonra era lavada com
sangue, a justiça era feita na hora o malfeitor se conseguisse se safar do tiro
ou punhal, era condenado à forca e a mesma era esticada na grande figueira,
onde o “dito cujo” era dependurado para que servisse de alerta a outros que se
atrevessem a agir de forma alheia a moral e bons costumes, segundo causo antigo
alguns dos enforcados nas figueiras, eram enterrados ali por perto mesmo, ou em
uma espécie de cemitério próximo.
Um
causo antigo diz que existia nesta região da figueira, uma casa de damas da
noite, essas casas surgiram principalmente depois da guerra do Paraguai, muitas
viúvas tiveram que seguir nesta vida para poder sobreviver, isso também servia
de atrativo para que os viajantes e tropeiros utilizassem este local como
parada, já que perto existia tal casa para alegrar a noite da peonada. Tal fato
foi relatado no livro de REIS, Elpídio, Ponta Porã Polca, Churrasco e
Chimarrão. Pag. 56.
“Nem
todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina
e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses,
visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam
acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.
Com
o passar dos anos e o progresso chegando à fronteira a urbanização e construção
de novas residências forçou a retirada de tal casa como o ponto de parada dos
viajantes e tropeiros do local, ficando afastada da área central.
Por
anos a relatos de fronteiriços antigos que em certa hora da noite quem passasse
por baixo da figueira ou próximo da mesma, vez ou outra avistava o espirito
(fantasma) de um enforcado na figueira, vozes e gritos eram escutados também,
por anos tais aparições foram comentadas na fronteira, mesmo no tempo que ali
era o campo da figueira, muitos relatos de pessoas que avistaram o espirito do
enforcado eram mencionado em causos na região.
Com
a construção do Paço Municipal e da Escola Estadual Joaquim Murtinho, a
urbanização, a rede de luz elétrica chegando a todas as casas, o fato das novas
gerações desconhecerem tais acontecimentos, a lenda do enforcado da figueira se
perdeu no tempo.
Com
a queda da grande figueira, muitos antigos moradores da região fronteiriça
alegam que tal fato se deu pelo peso das almas dos espíritos dos enforcados de
outros tempos. Esse mistério se foi com a queda da figueira.
O
resgate de fatos épicos que ficaram esquecidos no tempo se faz necessário para
relembrar de eventos que marcaram o povoamento da região fronteiriça no inicio
do século XX, desta forma proporcionando a novas gerações conhecimento sobre
suas raízes sócias, históricas e culturais, pois um povo sem memória e um povo
sem história.
Pesquisador: Yhulds
Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e
logística (Programas Estaduais e Federias). Professor Coordenador da Rede
Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade –
Ponta Porã – MS.
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