quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do tempo: Memórias da aviação da fronteira. O primeiro avião e a criação do Aeroclube de Ponta Porã através do programa Federal “Deem Asas ao Brasil”.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno
“Criei um aparelho para unir a humanidade, não para destruí-la.” Alberto Santos Dumont (1873-1932).
Ao longo da evolução histórica o desejo de voar está presente na humanidade, pode se dizer que tal fato seja proveniente desde os tempos pré-históricos, quando os homens observavam os pássaros neste período evolutivo.
Existem muitos registros e narrativas históricas de aventureiros que se arriscarão a voar, sendo esses mal sucedidos, o mais famoso ”Ìcaro” (mitologia Grega), que juntamente com seu pai Dédalo construiu asas artificiais a partir da cera, mel de abelhas e penas de gaivota para fugir de sua prisão.
Antes da fuga, Dédalo alertou ao filho que não voasse muito perto do sol, para não derreter suas asas, mas Ícaro não obedeceu a seu pai, e pôs-se voar próximo ao sol, suas asas derreteram com o calor e Ìcaro acabou caindo no mar Egeu.
Séculos se passaram ao decorrer dos milênios, até que o primeiro aviador no dia 
23 de outubro de 1906, neste dia uma centenas de pessoas se aglomeravam no campo de Bagatelle, em Paris, para observar um imponente aeroplano branco, essa engenhoca fora construída com asas feitas de pipas-caixas e um motor de 50 cavalos-vapor, uma façanha para estes tempo.

De pé, em um cesto entre as asas, estava um homem elegantemente vestido, muito conhecido de todos por suas prodigiosas façanhas aéreas em balões e dirigíveis. Alberto Santos-Dumont tentava tornar-se o primeiro homem do mundo a voar em avião, este fato fora registrado e perpetuado sendo Alberto Santos Dumont o pai da aviação brasileira, reconhecido no mundo como um dos mais brilhantes em seu tempo, dentro das diversas invenções, destaca-se também a adaptação do relógio de pulso, para facilitar aos pilotos ver as horas.
O primeiro avião em Ponta Porã que se tem notícia foi registrado por Elpídio Reis em seu livro Polca churrasco e chimarrão, 1981. “As populações de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero não conheciam avião. Certo dia de 31, ou 32, lá pelas dez da manhã surgiu no ar vindo da capital do Paraguai um avião, que hoje chamaríamos de teco-teco”.
Foi registrado pelo autor, que os moradores de ambas as cidades saíram para ver o que estava acontecendo, o avião sobrevoou por alguns minutos, descendo no campo de futebol que neste período histórico se localizava ao lado do Quartel do Exército de Pedro Juan Caballero Paraguai, quem se encorajou foi no local para observar, “ver o bicho de perto”.
“Eu, menino, também fui. Quando chegamos ao local onde o avião se achava, soldados paraguaios o guardavam formando uma fila que hoje chamamos de cordão de isolamento. Vimos àquela raridade a certa distância. À tarde, por volta das três horas, o avião levantou voo para dar um show muito especial. Pôs-se a sobrevoar as duas cidades fazendo no ar a mais incríveis piruetas” REIS, Elpídio, 1981. P. 106.

Segundo relato, o piloto era alemão, fora aviador combatente da primeira “Guerra Mundial”, creio eu que muito provavelmente veio observar a imensidão de terras, essas sempre foram grande atrativo a estrangeiros para investimentos na agropecuária na região fronteiriça, entre outros negócios da época, isso se explica a quantidade de imigrantes descendentes de alemães na fronteira. Depois deste acontecimento épico, aviadores começaram a surgir na região de fronteira muitos deles filhos de Ponta Porã. 

Foto divulgação: Irmãos Cardoso aviadores filhos ilustres de Ponta Porã, da esquerda para direita; Arsênio, Ezaul Filho, Arlindo, Heitor, Elidio e Aral. Na década de 40 o Presidente da época Getúlio Vargas cria o programa “Deem Asas ao Brasil” este programa tinha finalidade única de formar pilotos para aviação brasileira, entre eles os famosos “irmãos Cardoso”, Sendo eles heróis proporcionou a sua mãe Srª Aurora Icassatti Cardoso, receber a medalha do Mérito de Santos Dumont em 1964 com o título de “Mãe dos Aviadores”, noticiada no jornal Ultima Hora e publicada no livro Um Século de Histórias de Ramão Ney Magalhães. 2013.

Foto arquivo pessoal de Luiz Alfredo Marques Magalhães, publicado no livro Um Homem de Seu Tempo 2011. Membros do Aero Clube de Ponta Porã, ao fundo o castelinho. 1945.
O inicio da aviação em Ponta Porã se deu em sete de setembro de 1941 com a fundação do aeroclube da cidade, através do programa do Governo Federal “Deem Asas ao Brasil”, o local era onde hoje se encontra a área da estação ferroviária e o castelinho (prédio histórico da cidade). O aeroclube contava nesta época com duas aeronaves, as mesmas foram doadas pelo Governo Federal. 

Foto arquivo de Srª Elza Mendes Golçalves 1941: publicado no livro Um Homem de Seu Tempo 2011 de Luiz Alfredo Marques Magalhães, nesta imagem épica registrou um momento histórico para região fronteiriça, “O jornalista Assis Chateaubriand discursa na solenidade de entrega de aviões em Campanário. Na foto ainda estão Juan Baptista Ayala, Ministro plenipotenciário do Paraguai, Ester Mendes Gonçalves, sobrinha de Franscisco Mendes Gonçalves, Oswaldo Euclides de Souza Aranha, ministro das Relações exteriores, Joaquim Pedro Salgado Filho, Ministro da Aeronáutica, e pradinho do “Piper” Don Francisco, nome do sócio fundador da Cia. Mate Laranjeira, Francisco Mendes Gonçalves”. MAGALHÃES.  Luiz A. Marques


Arquivo pessoal de Luiz A. M. Magalhães: “A linha da fronteira no ano de 1945, em destaque no circulo vermelho Pharmacia Estrela inaugurada em 1926 ao lado o funcionou o Cine Palma fundado pelo espanhol Estebán Palma, depois foi adquirido pelo carioca João Vayres, que o transformou no Bar e Cine Brasil. em fotografia feita por Leon Torossian a bordo de um avião de Athamaryl Saldanha”. MAGALHÃES. 2011.
Relembrar fatos históricos que de alguma maneira contribuíram para o desenvolvimento da região de fronteira em seu tempo e proporcionar aos cidadãos o conhecimento de acontecimentos épicos que marcaram uma geração.

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.









quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do tempo: Causos e lendas do folclore da fronteira, o violeiro


* Yhulds Giovani Pereira Bueno.



   Causo é estória, algo contado em beira de uma bela fogueira onde todos estão sentados em troncos de árvores, causo pode até ser uma lenda, mais é baseada em fatos vividos por pessoas simples da lida do campo do interior de outros tempos, onde a crença era diferente respeitada, causo é assunto de fim de noite com a família ou de reunião de amigos, o fato é que acredita quem quer, mas na dúvida ninguém paga para ver se é verdade ou não só mais um causo da região.

   Essa é a lenda de um violeiro que andou nessa fronteira há muito tempo atrás, homem bem apessoado de fino trato como se dizia antigamente, época que para escutar uma boa música tinha que convidar ou ir onde tinha um bom tocador de violão, quem tinha essa habilidade musical era muito requisitado, em reuniões e festas, pois rádio nesse tempo na fronteira não existia, nem ao menos luz elétrica havia nesses tempos, a luz era o do sol ou da lua, mas Dom Alejandro segundo relatos de quem cresceu escutando suas façanhas cercadas de mistérios tinha esse talento, além dos demais tocadores de viola ou violão, elegante e galanteador, por esse motivo dezenas de pessoas se reuniam ao seu redor, mas quem dele um pouco conhecia através de causos contados, conta sua estória há muito tempo esquecida na fronteira. Vamos fazer um resgate de um destes causos cercados de fatos intrigantes.

   Dom Alejandro quando novo aprendeu tocar violão, mas conta lenda que repentinamente ele se tornou um exímio tocador de violão e também aprendeu outros atributos, entre eles, de ler a sorte e adivinhar o futuro, esses feitos em outros tempos eram cercados de mistérios algo que muitos preferiam não comentar.
O fato que ele fazia nesses tempos muito sucesso na fronteira, tanto do lado do Brasil em Ponta Porã que era uma pequena vila, de poucas casas e Pedro Juan Caballero que tinha uma vida social, mas agitada, ele também era chamado para tocar nas campanhas (estâncias ou fazendas) naqueles tempos, ninguém nem mesmo a família soube ao certo como ele adquiriu tanto conhecimento em áreas um tanto ocultas, e ninguém se atrevia a perguntar mesmo por que ele não falava a respeito e só realizava a leitura de sorte ou futuro quando queria e de quem ele queria, ou seja, nem todos tinham o privilegio de ser atendido por Dom Alejandro.

   Mas o mistério seria parcialmente desvendado quando, certo dia ele foi contratado para tocar, a festa seria em uma fazenda distante o trajeto era feito em lombo de cavalo por picadas, atravessando caraguatá (fruta) e chirca (planta erva daninha) lugar também de muitos espinhos de uma longa distância, para não ir só ele convidou outros dois amigos que às vezes o acompanhava nos bailes da região, o contratante que segundo a lenda era um homem misterioso chegara ao anoitecer, todo de vestimenta preta e um belo cavalo com detalhes de prata, veio ao seu encontro para acompanha-lo, após o longo trajeto tarde da noite chegaram ao local da festa, conta a história: a casa que era grande sem janelas no meio da mata, quando chegaram a casa estava vazia o dono misterioso então ditou as regras, comece a tocar quando o primeiro galo cantar, o galo branco, continue tocando e cantando até o segundo galo cantar, o galo vermelho e você terá uma surpresa quando o terceiro galo cantar, o galo preto.

   Dom Alejandro estranhando o fato concordou já imaginando o que poderia acontecer, ao escutar o canto do galo começaram a tocar e cantar, o estranho é que convidados ali não tinha nem barulho de pessoas, Dom Alejandro temeroso sussurrou para seus companheiros vamos tocar só musicas sacras amigos!  Quando começaram a tocar eis que o homem misterioso gritou ao fundo, que pensam que estão fazendo! Parem, e toque outra música, essa não! Exclamou o homem que estranhamente mudara de forma, seus pés e suas mãos tinha a forma de pé de galos com três dedos os “três cantos”, assustados os três violeiros perceberam que uma movimentação estranha acontecia, eis que de repente o salão estava cheio de pessoas um tanto esquisitas, com a mesma forma do tal homem, o dono veio ao meio do salão olhando a Dom Alejandro exclamou quero que leia minha sorte! E adivinhe meu futuro! E diga quem eu sou! Rapidamente dom Alejandro começou a tocar novamente a música sacra como nunca tinha tocado, seus amigos o acompanharam mesmo assustados com que acontecia, eis que a fúria tomou conta do salão, até que um grito ensurdecedor acompanhado de um clarão, e despareceram como se nada tivesse acontecido, segundo contam Dom Alejandro e seus amigos continuaram cantando no meio da mata, e foram encontrados dias depois saindo do caraguatá. Contaram o acontecido a todos da região.

   Passou os anos, até que em certo dia um homem pela fronteira andava a procurar Dom Alejandro, perguntando onde poderia encontra-lo, esse homem alto todo de vestimenta preta montado em um belo cavalo com detalhes prateados de voz grave e olhar intimidador, é fato que o homem encontrou Dom Alejandro e segundo o causo contado por quem cresceu ouvindo essa lenda que o homem novamente pediu para ele ler sua sorte, adivinhar seu futuro e dizer quem ele era, o mistério segue que os dois ficaram trancados dentro da sala da casa de Dom Alejandro que pedira para sua mãe sair e esperar do lado de fora, e o que se ouvia era o homem exclamando leia ou devolva o que é meu e Dom Alejandro dizendo eu não leio e nem adivinho sorte de ninguém e muito menos de você, nunca mais.

   Depois deste acontecimento pegou tudo que tinha colocou em uma caixa e seguiu em direção à mata, sabe-se que ele enterrou seus segredos dentro daquela caixa em algum lugar desta fronteira, em baixo da raiz de uma grande figueira, sua mãe curiosa para saber o que o filho faria com a caixa o seguiu, ao perceber Dom Alejandro olhou para mãe e disse mãe nunca mexa ou queira saber o que tem aqui dentro, esqueça esse local se quiser teu filho vivo e salvo, depois disso nunca mais tocou como antes e seu encanto se acabou. Se for verdade ou não, muitos daquele tempo diziam que ele tinha feito um pacto, e quando foi cobrado ele quebrou o pacto e por isso foi tirado dele tudo que tinha.

   A lenda do violeiro foi passada de geração a geração, um tanto esquecida nos dias de hoje, lembradas por poucos descendentes destas épocas distintas de nossa fronteira, onde hoje pouco espaço tem para os causos de outros tempos, onde a fé o respeito eram virtudes a serem preservados. Lembrar-se do passado e preservar o futuro.

Pesquisador: Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor da Rede Municipal de Educação. Membro da diretoria executiva e do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do Tempo: Semana Farroupilha o seu surgimento dentro do tradicionalismo gaúcho.

*Yhulds Giovani Pereira Bueno.

 "O movimento tradicional foi criado para ser um movimento. Não é um estanque, parado, fixo" Paixão Côrtes

   Segundo pesquisadores e historiadores que buscam analisar os fatos que envolvem esta grandiosa comemoração cercada de muita festa, envolvendo todos os tradicionalistas da cultura gaucha dentre eles pode ser citado o tradicionalista João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, que em seu livro Origem da Semana Farroupilha - Primórdios do Tradicionalismo Gaúcho (1994) relata que, ao contrário do que se costuma pensar.


João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, nasceu em Santana do Livramento em 12 de Julho de 1927, folclorista, compositor, radialista e pesquisador do tradicionalismo gaúcho "Segundo o folclorista, somado a outros estados e países, o MTG une mais de 8 milhões de pessoas" Fonte http://g1.globo.com/

   “O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) não surgiu depois da Revolução Farroupilha, em 1846, mas teve sua origem em iniciativas do Grêmio Estudantil da Escola Júlio de Castilhos (Julinho), em Porto Alegre, na primeira quinzena de setembro de 1947”.

   Seguindo seu relato para entender a semana farroupilha e os motivos para preservar o legado dos antepassados, a entidade estudantil fundou o seu Departamento de Tradições Gaúchas, representado por diversos alunos com trajes característicos e montado em pingos (cavalo).

   No dia 7 de setembro daquele ano, antes de ser extinto o Fogo da Pátria, os cavaleiros desse departamento transportaram até o velho casarão do Julinho uma centelha de fogo, que ficaria acesa até dia 20 de setembro.
No período de 7 a 20 de setembro passou a ser realizada a chamada Ronda Gaúcha e, no seu decorrer, foram promovidos diversos eventos sobre temas regionais e folclóricos, o primeiro a presidir o DTG foi o próprio Paixão Cortês, entre as atividades estabelecidas pelo departamento a principal de cultivar as tradições gaúchas, dentre elas: bailes, concursos de danças, trajes típicos, fotografia, literatura, desenho, publicação de artigos no jornal do Julinho, palestras com intelectuais e provas campeiras.

Fonte: http://www.paginadogaucho.com.br/pers/paixaopelosul-02.htm, arquivo Pessoal/ZHEm setembro de 1948, o primeiro piquete de cavaleiros do 35 CTG saia às ruas de Porto Alegre para conduzir a Chama Crioula. Paixão Côrtes (D) está acompanhado de José Laerte Vieira Simch (E) e de Antônio Cândido da Silva Neto (C).

   Pode se dizer que graças a esse pioneirismo dentre tantos outros é que o tradicionalismo da cultura gaucha se espalhou pelo Brasil e pelo mundo com eventos Nacionais, Regionais e Estaduais. Nos meios tradicionalistas se afirma que o Gaúcho não é unicamente o indivíduo natural do Estado do Rio Grande do Sul.

   O Gaúcho é considerado o homem cavaleiro dos Pampas das Américas, que recebe na Argentina, Uruguai e no Brasil o nome de Gaúcho, no Chile de Guaso, na Venezuela de Ilanero e no México Charroe.

   O Gaúcho é o vaqueiro, é o homem ligado ao campo e nas tradições, ele que inicialmente era simplesmente um caçador, tornou-se um verdadeiro protetor do tradicionalismo. Hoje o Gaúcho além de tudo isso é um representante fiel das tradições da maneira simples de viver representado pela família, amizade e cultura.

Fonte: http://www.paginadogaucho.com.br/pers/paixaopelosul-02.htm, arquivo Pessoal/ZH: Em 1958, durante a temporada que passou em Paris, Paixão (de chapéu) e Zé Gomes (E) participaram de programa na televisão francesa

   E fato que todo grupo social, toda a nação, tem sua própria escala de valores, e essa escala que torna os povos espalhados pelo mundo distintos entre si, como acontece com o tradicionalismo gaúcho no Brasil e no mundo, por ter uma escala de valores muito característica os tradicionalistas gaúchos cultuam os valores da tradição muito mais focados, mas deve se, fazer saber que tradição cada Estado e região do país têm a sua e todas devem ser respeitadas e apreciadas de forma a manter sempre viva a cultura de valores no Brasil. E viva a semana Farroupilha!
 

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. Membro da diretoria executiva e do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.

Ponta Porã Linha do tempo: Memórias desportivas da fronteira. Equipe Feminina do Athenas Esporte Clube. “As meninas de ouro”.

*Yhulds Giovani Pereira Bueno.


Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. “Herodoto”.

   Para compreendermos o presente precisamos realizar uma análise de fatos do passado, pois a história parece ser muitas vezes ensinada como um constante crescente de progresso, isto é, o passado tende a ser concebido como deficitário como atrasado em relação ao presente.

   Resgatar tais fatos, estes gravados nas memórias de tantos cidadãos da região fronteiriça, que em seu tempo puderam vivenciar situações que direta e indiretamente contribuíram para a evolução sociopolítica, cultural e desportiva de Ponta Porã. Permite compreender certas conquistas atuais, podendo ser citada a liberdade e maior participação das mulheres em eventos desportivos que antes era somente permitido a homens, estas lutas que se iniciaram no passado, hoje permite a novas gerações desfrutar livremente destas conquistas.

   Realizando uma retrospectiva de eventos históricos, voltamos ao ano de 1965. O Brasil estava em plena ditadura militar, não diferente a fronteira de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero vivenciava esse estilo de Governo e suas influências na sociedade, refletindo na maneira comportamental das pessoas.

   Nos grandes centros brasileiros, como em vários lugares espalhados pelo mundo, muitos manifestos ocorriam em busca de direitos nos mais variados níveis sociais, a população sempre estava em busca de maior participação nas politicas sociais, de poder exercer um papel maior no desenvolvimento sócio cultural, nesses embalos, as mulheres também estavam sempre buscando sua participação mais efetiva dentro da sociedade, direitos iguais em uma sociedade que na época era puramente machista, se hoje as mulheres e a população em geral tem uma maior participação, liberdade sem censura, pode se dizer que isso acontece graças ao pioneirismo de tantos em outros tempos, que através de suas atitudes visionárias quebram paradigmas e tabus em busca de realizar seus ideais.


   Vamos realizar um resgate deste período através do relato de quem participou efetivamente como atleta desta equipe feminina do Athenas Esporte Clube. A senhora Vergínia Cuevas Pereira.

Arquivo pessoal de Vergínia Cuevas Pereira: Alunas do Colégio Paroquial São José, meados da década de 60 séc. XX. Turma do 4º ano primário juntamente com a professora freira, irmã Margarida Maria.

   A Senhora Vergínia relembra que o “Athenas” fora criado no ano de 1965, uma equipe de futebol de salão feminino formada por alunas do Colégio Paroquial São José com idade entre 15 e 16 anos, o idealizador dessa façanha nesses tempos foi o professor Isaac Borges Capillé ou como era chamado carinhosamente por todos como professor (borjinho) isso devido a sua estatura, “borjinho” desportista, sendo membro atuante da Liga Desportiva Municipal de Ponta Porã, como no meio sócio político da fronteira, figura pública respeitada por todos em seu tempo, fora ele o idealizador da letra do hino de Ponta Porã. 

Imagem da fachada da antiga Escola Paroquial São José, década de 60, entrada que se localizava na Avenida Brasil.

   Com o apoio da direção da escola que nessa época tinha como diretor o Padre Thomaz e treinadas por um dos melhores atletas desses tempos da região fronteiriça, conhecido por “careca”. 


Arquivo pessoal de Gilberto Amarilha: Francisco Brandão ou “Chico Bera”, Gilberto Amarilha ”Giba” e Careca década de 70.

   A Equipe do Athenas Esporte Clube treinava na quadra que se localizava nesse tempo na área reservada para práticas esportivas no fundo do Colégio Paroquial São José, onde hoje se encontra as quadras de esportes da Escola Mace & São José, na divisa com as dependências da Igreja Matriz São José, era uma quadra pequena nesses tempos rodeada com arquibancadas de madeira, os treinos ocorriam durante o dia, pois se tratando de moças todo cuidado tinha que ser tomado, o uniforme era short vermelho e camiseta branca estilo regata (sem mangas) com símbolo da equipe bordado, a senhora Vergínia ressalta que a aluna de nome Telma irmã do desportista da época conhecido pelo apelido de “Tetéco”, esse fora fundador da equipe do Operário Esporte Clube da região de fronteira. Telma que incentivou as demais meninas a participar da equipe que estava sendo formada pelo professor “Borjinho”, como nesses tempos uma equipe feminina era algo inusitado, fora do padrão moral e cultural da sociedade, a mesma causaria um grande alvoroço na região. A senhora Vergínia relembra de alguns nomes, como da Giselda Brandão, Joana de Souza Lima e da própria Telma.

   A senhora Vergínia segue relembrando que em época de jogo a quadra ficava sempre cheia para assistir os jogos, que tinham como adversárias as equipes do país vizinho Paraguai principalmente de Pedro Juan Caballero, cidades vizinhas da região fronteiriça e da cidade de Campo Grande, em suas lembranças à senhora “Vergínia” menciona com saudosismo que a equipe do Athenas nunca perdeu um jogo que participou, pode ser que tenha sido pela presença sempre cativa do Padre Thomaz, que nunca deixava de ir a aos jogos das meninas do Athenas tendo sempre a mão um grande e belo terço.

   Padre Thomaz sempre incentivou a prática desportiva principalmente a equipe feminina, sempre exigindo respeito de quem comparecia para assistir os jogos, outro grande incentivador que participava dos jogos o Padre Pedro.

   Esse pioneirismo deu inicio a uma série de eventos e práticas desportivas voltadas ao público feminino na região fronteiriça. Um fato ficou gravado em sua memória, foi o fim da equipe do Athenas se deu segundo relato da senhora Vergínia quando a equipe fora convidada para participar de um campeonato na cidade de Penápolis Estado de São Paulo, para isso as atletas deveriam ter autorização dos pais ou responsáveis e do Juiz da comarca de Ponta Porã, aconteceu que o Juiz da época não deferiu a favor da viajem das meninas alegando que as mesmas eram menores, e a prática deste esporte traria prejuízos como varizes e formas físicas um tanto masculinas as meninas, por esse motivo o professor Isaac Borges Capillé “Borjinho” (in memórian), não teve alternativa a não ser terminar com a equipe para evitar conflitos com os contras da época, mas outras já estavam sendo criadas na cidade e região.

   Graças a essas pioneiras do Athenas Esporte Clube em seu tempo que de certa forma abriu portas, incentivando outras a participarem de esportes que antes era exclusivo do universo masculino.
Fico feliz em poder resgatar esse fato, e mencionar uma das protagonistas desta equipe do Athenas, minha mãe Verginia Cuevas Pereira, que tenho um grande orgulho de ser filho e sempre seguir minha vida através de seus ensinamentos.

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. Membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

PONTA PORÃ LINHA DO TEMPO: Memórias históricas desportivas da região fronteiriça. CRI-Clube Recreativo Itamarati na era do futebol do salão Sul-mato-grossense.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno.

Foto: arquivo pessoal Srº Adão Bueno, equipe campeã da Copa Morena.
   Viajando através da memória desportiva, faremos um resgate de um pequeno fragmento histórico da nossa fronteira.

   Quem viveu na década de 1980 e gostava de assistir um bom Futebol de Salão, nome dado na época para o esporte que hoje e conhecido como Futsal, vai resgatar de suas memórias a grande equipe do CRI da então famosa fazenda Itamarati, que foi na década de 1980 um polo pioneiro da agricultura brasileira em cultivo no cerrado, situada no nosso estado de Mato Grosso do Sul na região de fronteira dentro dos limites no município de Ponta Porã, iniciativa do empresário empreendedor Olacyr Francisco de Moraes.

   O surgimento desta equipe se deu nesse período por incentivo do engenheiro responsável e administrador da Fazenda Itamarati na época Drº Nomura, amante do desporto apaixonado por um bom Futebol de Salão, Palmeirense de coração, tendo jogado nas equipes de base do clube no estado de São Paulo na sua juventude. 

Foto: Arquivo pessoal de Eliane Nomura Ramos. Drº Alberto Keiti Nomura e Olacyr Francisco de Moraes

   O convite foi feito para o srº Adão Bueno desportista para ser o técnico da equipe da Fazenda Itamarati, com autonomia de buscar jovens talentos como também atletas renomados para compor esta equipe que marcou história dentro e fora de Mato Grosso do Sul disputando campeonatos e se consagrando vitorioso em muitas disputas realizadas ao longo do tempo.

   O Srº Adão Bueno já era nome conhecido no desporto da fronteira por longa data membro da LDMPP liga amadora de desporto de Ponta Porã, como também dirigente e técnico de equipes de renome dentro e fora do município de fronteira, atuando também com equipes do lado paraguaio, com esse Curriculum e vasta bagagem, despertou interesse do Drº Nomura que queria formar uma equipe competitiva levando o nome do grupo Itamarati principalmente da Itasul aos quatro cantos do Brasil.

Arquivo pessoal Adão Bueno, equipe campeã da IV Copa Morena 1982.

   O primeiro grande feito da equipe de futebol de salão da Itamarati foi ter se consagrado campeã da IV Copa Morena em 1982, campeonato esse com um sabor fronteiriço, pois a grande final emocionante e ainda viva na memória de quem teve o privilegio de assistir como também fazer parte deste momento épico, que foi televisionada pela emissora TV Morena na capital Campo Grande uma final onde duas equipes da fronteira disputavam o titulo de melhor do Estado, CRI Itamarati e Ponta Porã.

   Cada equipe com seu elenco de fazer inveja a qualquer técnico de seleção brasileira com nomes de peso, jogadores de primeira linha, conhecidos em todos os meios desportivos da época.

   O Srº Adão Bueno se lembra de todos os fatos e acontecimentos desta data vívido em sua memória esse embate futebolístico histórico, onde no primeiro tempo de jogo a equipe de Ponta Porã ganhava de 2 gols de diferença, no intervalo o repórter esportivo perguntou a Adão Bueno e agora o que você vai fazer? Calmamente Adão Bueno respondeu: empatar e virar esse placar ao meu favor desacreditando que tal fato pudesse ocorrer, o repórter e comentaristas fizeram suas tirinhas.

   Hoje passado 32 anos Srº Adão Bueno revela os bastidores desse momento esportivo, no vestiário acalmando seus atletas após ter estudado a grande equipe adversária de Ponta Porã e perceber suas falhas, conversou com cada jogador mudando sua tática muito pouco realizada na época por ter uma forma diferenciada.

   A tática tinha como método principal realizar a rotatividade dos atletas, jogando sem jogador fixo em quadra algo corriqueiro para quem entende de futebol de salão sabe o funcionamento do fixo, alas e pivô, mudando fazendo os jogadores se revezarem em quadra e pedindo a cada jogador que mudasse a forma de chutar a gol, ou seja, se te marcarem á direita chute com a esquerda eles não vão esperar você fazer isto, invertendo totalmente e confundindo a marcação do adversário, segue relembrando o Srº Adão Bueno.

  Não foi fácil, mas impossível também não seria, e no segundo tempo uma virada histórica aconteceu, 4 gols selaram o destino de Ponta Porã, que tinha em seu elenco jogadores renomados como: Carrocine, Juan Vilhalba e os Irmãos Vegas, entre outros que compunham a equipe de Ponta Porã, quem foi desta época vai relembrar desses grandes atletas e o técnico dessa fabulosa equipe de Ponta Porã era o então saudoso Roberto Urizar (Acostinha) nome consagrado no Desporto  fronteiriço e no Estado.

   O CRI ITAMARATI consagrou-se Campeã da 4ª edição da copa morena, algo inédito, com gols que foram declarados pela mídia como pinturas, tal foram suas conclusões em quadra, foi dado então o primeiro passo para levar o nome desta equipe antes não muito acreditada, como uma equipe de renome e peso dentro das quadras, realizando excursões fora do estado, jogando contra equipes de renomes no Brasil como: Tachinha, Citrosuco, Uracam, Palmeiras, Corinthians consagrando-se campeão e ganhado todos os jogos realizados.
Chamando atenção de muitos esportistas da época, Itamarati virou sinônimo de bom futebol de salão, esses fatos históricos todos registrados e comprovados com documentos e reportagens da época, ressalta o Srº Adão Bueno, lembrando saudoso desta época, mas com orgulho de ter escrito juntamente com tantos outros seu nome na história esportiva de Mato Grosso do Sul.

   Srº Adão Bueno lembra com carinho de seus atletas como: Vírginio, Cezar, Reinaldo Colmam, Darinho, Carlinhos bagaço, Carlitos goleiro, Chico, Ortiz, Azunil e Juvenal.

   A equipe da Fazenda Itamarati, CRI, repetiu o feito conseguindo dois títulos da Copa Morena, a fase da equipe se estendeu por longa data na década de 80. Consagrando se campeão do campeonato Estado de Mato Grosso do Sul.


Arquivo pessoal João Augusto Franco: Foto histórica Equipe campeã da Eximporã que disputou a final com Aparecida do Taboado, a disputa finalizou nos pênaltis. A equipe de aparecida tinha em seu elenco neste período jogadores que eram de seleção brasileira, mas a equipe do Eximporã tinha jogadores de renome do Paraguai e Brasil como: Flávio Kayat, Salinas, Pelego, Coque, entre outros jogadores renomados da época.


e
 Arquivo pessoal de Adão Bueno: Equipe de veteranos (máster) de Ponta Porã em meados da década de 60 



Arquivo pessoal de Adão Bueno: Recorte de jornal reportagem, ano 1976 do torneio realizado em Ponta Porã Pela LDMPP-Liga Desportiva Municipal de Ponta Porã, Adão Bueno técnico da referida equipe.



Arquivo pessoal de Adão Bueno: Recorte de jornal reportagem da época anos 70 séc. XX, do torneio realizado em Ponta Porã Pela LDMPP-Liga Desportiva Municipal de Ponta Porã, Adão Bueno técnico da referida equipe


Arquivo pessoal Adão Bueno: Equipe do São Paulo muito conhecida nos gramados da região fronteiriça




    Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federias). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.




segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ponta Porã Linha do Tempo: A Grande Figueira no tempo das comitivas e tropeiros, no início do povoamento da fronteira.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno

   Tempo determinante para a vida, mas que não tem piedade passa muitas das vezes despercebido no mundo atual, pois quase ninguém tem mais tempo, mas todos precisam de tempo. Como definir o tempo? Tal definição precisa de uma análise profunda de fatos, dados, momentos, períodos, datas e horas, para isso precisaria de muito tempo de pesquisa, no dicionário tempo e definido da seguinte forma: (duração de fatos e suas variantes de acordo com emprego da palavra, o mesmo pode ter vários significados).

   Fatos e histórias que são esquecidas, perdidas no tempo, protagonistas de seu tempo esquecidos ao passar dos anos no tempo, mas ainda se faz lembrado na memória de muitos fronteiriços que viveram ou descende de quem viveu nesses tempos, de uma fronteira diferente de casas e costumes que foram se perdendo no tempo, mas resgatados graças aos causos que são repassados as novas gerações através do tempo.

   Muitos viajantes passaram por essa fronteira, a exemplo da família Ribeiro, Vargas, Silva e Bueno, um destes migrantes o patriarca Roberto da Silva Bueno juntamente com sua esposa Maria Rodrigues e filhos, um deles o senhor Gumercindo Bueno, outra família era composta por Zeferino Vargas e sua esposa Bernadina Ribeiro, que viajavam com seus filhos e filhas uma delas Ramona Ribeiro Vargas, ambas as famílias oriundas do sul do país eram integrantes destas comitivas e tropeiros que chegavam e partiam da região, tais famílias tinham como parada final a região de Rincão de Julho próximo a Sanga Puitã (que significa córrego vermelho) e Rio Verde do Sul que se localiza próximo a Taji (tagy), e a antiga Colônia Dutra, hoje Município de Aral Moreira.


Foto de 1919 de Luiz Alfredo M. Magalhães. Publicada no livro um Homem de Seu Tempo, uma biografia de Aral Moreira, “intensa movimentação das carretas ervateiras”. Isso se deu no início do século na região fronteiriça, onde muitos desbravadores oriundos das mais diversas localidades e regiões do Brasil, principalmente do Sul do país, iniciaram seus cultivos e criações, nas estancias (fazendas) que estavam se formando na fronteira. 


   Neste período histórico a região da figueira era ponto de parada, descanso para esses viajantes, tais eventos eram ligados a emigrações e migrações na maioria do sul do país, diversas famílias deixavam sua terra natal para firmar parada na região fronteiriça, meses de viagem até o seu destino final.

   A antiga figueira que existia na área da Prefeitura Municipal de Ponta Porã, na Rua Antonio João, nesta época existia neste local, duas grandes figueiras entre outras árvores, um banhado e um poço que era utilizado pelos viajantes e tropeiros que ali erguiam seu acampamento para descansar dar de beber aos cavalos e seguir viaje no dia seguinte.

   Durante a parada, as famílias se misturavam de certa forma entre si e com os tropeiros e viajantes, pois no local durante a noite se acendia a fogueira, e sempre um bom contador de causo para descontrair todos, tinha um que tocava uma viola ou acordeom e logo começava o Pericom (dança popular do fandango).

“Pericón, é dança característica dos gaúchos argentinos, uruguaios e rio-grandenses-do-sul, na Argentina sempre foi considerada dança tipicamente, nacional. A música é composta em compasso terrário, com movimento vivo, e a dança tem grande semelhança com a quadrilha, com pequena variação na movimentação dos passos”. SEREJO, Hélio. Pialando...No Mas. Pág. 21.

   Certos entreveros (brigas desavenças) ocorriam à turma do “deixa disso” sempre aparecia para apaziguar e separar os mais exaltados, mas hora ou outra a desavença mexia com a honra da família, pois a cachaça era bebida liberada para aquecer a noite, e quando subia à cabeça as desavenças e morte ocorriam, por ter no local uma donzela que viajava com as famílias, muitas delas lindas moças sulistas, correntinhas, a peonada perdia a cabeça, e desonra era lavada com sangue, a justiça era feita na hora o malfeitor se conseguisse se safar do tiro ou punhal, era condenado à forca e a mesma era esticada na grande figueira, onde o “dito cujo” era dependurado para que servisse de alerta a outros que se atrevessem a agir de forma alheia a moral e bons costumes, segundo causo antigo alguns dos enforcados nas figueiras, eram enterrados ali por perto mesmo, ou em uma espécie de cemitério próximo.

   Um causo antigo diz que existia nesta região da figueira, uma casa de damas da noite, essas casas surgiram principalmente depois da guerra do Paraguai, muitas viúvas tiveram que seguir nesta vida para poder sobreviver, isso também servia de atrativo para que os viajantes e tropeiros utilizassem este local como parada, já que perto existia tal casa para alegrar a noite da peonada. Tal fato foi relatado no livro de REIS, Elpídio, Ponta Porã Polca, Churrasco e Chimarrão. Pag. 56.

“Nem todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.

   Com o passar dos anos e o progresso chegando à fronteira a urbanização e construção de novas residências forçou a retirada de tal casa como o ponto de parada dos viajantes e tropeiros do local, ficando afastada da área central.

   Por anos a relatos de fronteiriços antigos que em certa hora da noite quem passasse por baixo da figueira ou próximo da mesma, vez ou outra avistava o espirito (fantasma) de um enforcado na figueira, vozes e gritos eram escutados também, por anos tais aparições foram comentadas na fronteira, mesmo no tempo que ali era o campo da figueira, muitos relatos de pessoas que avistaram o espirito do enforcado eram mencionado em causos na região.

   Com a construção do Paço Municipal e da Escola Estadual Joaquim Murtinho, a urbanização, a rede de luz elétrica chegando a todas as casas, o fato das novas gerações desconhecerem tais acontecimentos, a lenda do enforcado da figueira se perdeu no tempo.

   Com a queda da grande figueira, muitos antigos moradores da região fronteiriça alegam que tal fato se deu pelo peso das almas dos espíritos dos enforcados de outros tempos. Esse mistério se foi com a queda da figueira.

   O resgate de fatos épicos que ficaram esquecidos no tempo se faz necessário para relembrar de eventos que marcaram o povoamento da região fronteiriça no inicio do século XX, desta forma proporcionando a novas gerações conhecimento sobre suas raízes sócias, históricas e culturais, pois um povo sem memória e um povo sem história. 


   Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federias). Professor Coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.








Ponta Porã Linha do Tempo: Memória histórica e cultural do cotidiano da fronteira. Portão da Granja.

* Yhulds Giovani Pereira Bueno
   
Ponta Porã (BR), uma cidade sul-mato-grossense com sua peculiaridade distinta das demais cidades de fronteira, pois faz divisa com a cidade de Pedro Juan Caballero Capital do Departamento de Amambay-PY. 
Uma fronteira seca por assim dizer, pois basta atravessar a rua, e você já se encontra em outro país, algo que passa despercebido para os fronteiriços, mas que atrai muitos turistas que se encantam com essa situação, que faz parte do cotidiano deste povo.

   Das várias memórias históricas de Ponta Porã, vamos resgatar uma de tantas que fazem parte das raízes do desenvolvimento desta fronteira de outros tempos, que hoje estão esquecidas, mas através de relatos de populares que cresceram escutando essas histórias ou viveram nesses tempos, essas histórias podem ser resgatadas.


   O portão da granja era um arco grande feito de tijolos uma típica entrada de fazenda, neste local hoje existe uma praça e a rotatória da bandeira na entrada da cidade. Esse portão era a única entrada com bom acesso para o aeroporto da cidade e também de uma propriedade com muita variedade de animais, frutas, verduras, e como existia também uma grande criação de aves ficou conhecido pelos populares da época com portão da granja, nessa região existia um grande açude que se localizava no centro desta propriedade, onde hoje e o Bairro da Granja e Bairros adjacentes, mas popularizou-se como Bairro da Granja. 


Créditos: http://www.mochileiro.tur.br/ponta-pora.htm.  Entrada principal  de Ponta Porã, a direita da bandeira do Brasil se localiza a entrada do bairro da Granja.

   Nesse açude o 11º RC nesses tempos, levava seus cavalos para que os mesmos pudessem ser lavados “banhados” pelos soldados. Nessa região também existia um campo repleto de pés de guavira (planta frutífera da região) que atraia muitos catadores da época.

   Mas a atração principal dos meninos e jovens da época era o açude, pois como era grande permitia que os mesmos nadassem, se divertindo com as mais diversas brincadeiras e suas peraltices, como o açude era próximo do local onde ficavam as aves, tais meninos se utilizando de seus estilingues ou funda (objeto feito em madeira nessa época, em formato de Y com borrachas amarradas que permitiram lançar pedras em grande distancias), alvejavam atirando as pedras nas aves que eram de preferencia peru, para serem despenadas e assadas pelos mesmos na beira do açude, propiciando um banquete com frutas a todos que estavam presente nesses tempos em meados da década de 50.

   Com o desenvolvimento e ampliação da cidade através da urbanização essa propriedade se extinguiu dando espaço a construção de casas nessa região, segundo informação de populares esse arco conhecido como portão da granja ficou nesse local até final dos anos 60 início dos anos 70, quando foi feito uma nova entrada para cidade, com uma pequena rotatória com o nome da cidade de Ponta Porã em letras de concreto. Resgatar fatos do cotidiano histórico de um povo e entender o seu desenvolvimento.


   Pesquisador: Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor Coordenador da Rede Municipal de Educação. Membro da diretoria executiva e do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.