* Yhulds Giovani Pereira Bueno.
Quem
nunca ouviu um causo, uma história bem contada cheia de mistérios quando
criança, por aqueles que as vivenciaram ou escutaram de alguém que esteve aqui
nesta fronteira em outros tempos já esquecidos, mas ainda vivos na lembrança
destes fronteiriços, que hoje são saudosos de outras épocas distintas que
ficaram gravadas em sua memória.
Vamos
fazer um resgate histórico de um destes causos cercados de mistérios de um
personagem que a muito já está esquecido, mas que andou por estas terras há
muitas décadas atrás, empreitava trabalho nos ervais da região, conhecido por
todos daquele tempo como Matias Tataty nome que pode ter origem tupi guarani
(tata’y que significa fumaça de madeira grossa, dura que demora a queimar).
Matias
Tataty era homem severo, de poucas palavras e bruto no trabalho, cheio de
mistérios e respeitado por assim dizer, pelo fato de muitos dizerem que ele
tinha feito um pacto quando jovem com forças ocultas, em troca ele teria os
seus pedidos atendidos, se o fato era verdade ou não, quem cresceu escutando as
historias do Matias Tataty, diz que ninguém queria pagar para ver, pois conta
que em época de colheita onde eram carregadas centenas de sacos de ervas
extremamente pesados, do clarear do dia até o sol se por, pois nesses tempos
não havia o luxo da luz elétrica na cidade, imagina como era a vida no campo,
Nesse
período de colheita é que Matias Tataty mostrava seu poder, fazendo coisas que
até o mais céticos dos homens temia e não se atrevia a contestar.
Conta
lenda que certa vez após uma colheita abundante de erva, os sacos estavam
lotados cheios, esses sacos imensos eram transportados pelos ervateiros um a um
até os galpões, para ali ficarem em segurança, protegidos, mas em certo dia, se
armou um grande temporal os ervateiros exaustos de tanto levar os sacos de
ervas por longa distância, não conseguiriam terminar a tempo e poderiam perder
toda a colheita, Matias Tataty observando o que poderia acontecer pediu para os
ervateiros seguir a diante, pois o restante da colheita ele iria proteger.
Os
ervateiros assustados não esboçaram nenhuma resistência à ordem dada por Matias
Tataty, seguiram rumo à sede da fazenda levando o que podiam para ser guardado
no galpão, o trabalho era puramente braçal quando muito em certo ponto da
caminhada as carretas de boi ajudavam no transporte que era árduo e lento.
Foto
divulgação FCMS-Federação da cultura de Mato Grosso do Sul, publicada na
revista Cultura MS – Nº 03. Típico
fazendeiro ervateiro do início do século XIX da região de fronteira bebendo
tereré ao lado de “pé de erva”.Tereré
de Ponta Porã registrado com patrimônio imaterial em 2010.
O
fato segue cercado de mistério, pois quando os ervateiros chegaram ao galpão,
se é verdade o fato, o mesmo ficou registrado nos causos contados na região
fronteiriça, por aqueles que escutaram de quem viveu e descendeu de moradores
antigos desses tempos, que Matias Tataty surrava os sacos de erva com um reio tramado
de couro fino, e os mesmo seguiam rumo ao galpão, os ervateiros assustados com
os clarões dos raios que cortavam o céu e escutando ao fundo os estalos do
chicote de Matias Tataty, observavam que os sacos de ervas se amontoavam um a
um dentro do velho galpão, sempre cercado de mistérios, ninguém se atrevia a
questionar Matias Tataty nem mesmo os próprios donos dos ervais.
Dentre
tantos feitos de Matias Tataty um que chamava atenção, era o fato que nos dias
de hoje seria algo para ser realizado pelos melhores ilusionistas, ele tinha o
poder de transformar folhas de erva em dinheiro através de uma de suas muitas
orações, conta que ele entregava o saco de folha de erva e quando a pessoa
abria só enxergava dinheiro e não as folhas.
Estas
histórias são causos, lendas de outras épocas onde a fé, religiosidade e as
crenças do povo nesses assuntos eram mais respeitadas.
Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional,
gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da
Rede Municipal de Educação. Membro da diretoria executiva e do Grupo Xiru do
CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.
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