*Yhulds Giovani Pereira
Bueno
Causos são contos
repassados de pai para filho, de uma geração para outra geração, contado na
roda de amigos tomando um bom chimarrão (mate) ou um saboroso tereré, causo é
contado com um ar de mistério, mas preservando a verdade da lenda e respeitando
sempre a memória cultural das famílias fronteiriças.
Causo (conto) ou lenda
já era utilizada pelos povos antigos de outras eras, para repassar seus conhecimentos
suas histórias e assim seguir mantendo sempre viva suas origens e crenças.
Vamos abordar um de muitos causos que são contados pelos antigos na região de
fronteira.
Hospital Santa Isabel
se localizava onde hoje está instalado o CRE Centro Regional de Especialidades Drº
João Kayatt entre os cruzamentos da Rua Guia Lopes e Rua Felisberto Marques. Em
outras épocas o Hospital Santa Isabel era o porto seguro daqueles que necessitavam
de tratamento médico, mas nem sempre todos conseguiam se curar de suas
enfermidades, e óbitos ocorriam neste local, sempre gerando muita historia de
aparições e ruídos pelos corredores, isso contado pelo povo em outros tempos.
De acordo com relatos
de quem conviveu escutando esses causos, Secundino era um senhor que trabalhava
no Hospital Santa Isabel uma figura um tanto folclórica pelos seus hábitos,
atitudes e jeito de falar, dentre suas várias atribuições, uma em especial
chamava atenção, o senhor Secundino tinha a responsabilidade de cuidar dos
corpos (defuntos), levando os mesmos até a capela mortuária (necrotério) para
ser preparado para o sepultamento, neste período histórico essa capela
mortuária se localizava ao lado do hospital, a mesma era de madeira, hoje neste
local existe uma capela mortuária de material (alvenaria).
Foto arquivo família Puléo: Dº Joaquim Teixeira médico renomado em seu
tempo na fronteira e sua esposa Felícia Arguelho Teixeira.
Um causo um tanto
atípico dentre tantos chamou atenção, conta história se é verdade a mesma está
gravada no imaginário dos populares vivos destes tempos, que certa vez um óbito
ocorreu e o corpo que não fora identificado por ninguém, o mesmo seria
enterrado como de costume nesses casos como indigente (pessoa não identificada),
Secundino era responsável por levar os corpos ao cemitério, esses eram levados
de carroça (veículo puxado à tração animal) nesses tempos, como já era tarde e
a noite já estava chegando, Secundino saiu às pressas o caminho era longo e
cheio de curvas, e além de tudo existia nesses tempos onde hoje se localizam
Rua General Ozório, Rua Calógeras e travessa Rua Dep. Aral Moreira, uma imensa
erosão (buraco) muito íngreme com um pequeno córrego, chamado nesses tempos de
terra de ninguém, era rodeado de mata e poucas casas, esse buraco dificultava a
travessia da carroça, como o cemitério Cristo Rei se localiza na Rua Rio Branco
e Rua Cosme Damião (o mesmo permanece no mesmo local até os dias de hoje), era
muito longe com um grande vassoural (planta nativa da região) e guavira (planta
frutífera nativa da região).
O caminho era longo
pela dificuldade naqueles tempos, mas Secundino não queria perder a hora, pois
para completar o tempo estava fechando e isso significa chuva na certa, o
desespero de Secundino fora tal que quando contornava o buraco bem na encosta
no mesmo para atalhar caminho o caixão com defunto dentro caiu e deslizou
ladeira a baixo, Secundino em meios a trovoadas, chuvas e os solavancos da
carroça nem percebeu que perdera o caixão com defunto, só percebendo o que
tinha ocorrido quando chegou ao cemitério, pois lá se encontrava o zelador da
época o senhor conhecido de todos como por seu Dindin, que logo foi
questionando Secundino onde estava o caixão e o defunto que seria enterrado.
Secundino voltou ao
hospital e relatou o acontecido, como já era noite e estava chovendo o caixão e
o defunto só seriam procurados pela manhã, segue causo que até ajuda do quartel
(exército) fora solicitado e disponibilizaram alguns soldados para as buscas, populares
da época também ajudaram para localizar o caixão.
Pois não fora fácil achar
o defunto fujão no meio da chirca (planta daninha) e da mata, que pelo jeito
teimara em ser sepultado como indigente, ficando assim mais um entre tantos
causos do Secundino na região, hoje já esquecido pelas décadas e novas gerações,
mas sempre vivo na memória do povo de outras épocas saudosas da nossa região de
fronteira.
O resgate de eventos históricos, causos ou lendas é uma forma de manter viva na lembrança momentos que de uma maneira ou outra marcaram uma época.
Pesquisador:
Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística
(Programas Estaduais e Federais). Professor da Rede Coordenador Municipal de
Educação. Membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.