domingo, 11 de janeiro de 2015

Ponta Porã Linha do tempo: A formação das fazendas e os bailes, no tempo dos ervais na região fronteiriça.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno.

“A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável”.  Mahatma Gandhi

O desenvolvimento de uma região se faz necessário para que o progresso chegue, e com ele venha às novidades de novas tecnologias, para seguir amenizando as dificuldades do inicio da colonização, que os pioneiros tiveram que vencer para construir o seu sonho com sangue, suor e lagrimas na formação da região fronteiriça.

No inicio da formação das fazendas na região, nada foi fácil para quem se aventurou por estas terras vastas e misteriosas, que antes da divisão política dos estados brasileiros era composto por onde se localiza os estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, essa imensidão territorial estava longe dos grandes centros já em formação no Brasil.

“Começam a chegar a Mato Grosso as comitivas do Rio Grande do sul, as causas dessa epopeia. Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de Mato Grosso se tornara conhecida pelos componentes da coluna do general Câmara, que operou nas cordilheiras de Amambaí e Maracaju, na sua fase final. Feita a desmobilização, os que regressaram à sua província natal Rio Grande do Sul levaram a notícia de que aqui existiam campos devolutos, próprios para criação de gado, e imensas matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.” ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 49.


 Esta região neste período da formação histórica fronteiriça servia como parada de tropeiros e viajantes, esses oriundos principalmente do sul e de outros países que visualizavam oportunidades principalmente na exploração de erva mate entre outras riquezas minerais existentes.  


Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto década de 50. Empreitada para formação de novas pastagens na fazenda pertencente na época do Drº Henrique Grion, localizada na região do “guaymbé” próximo a lugar denominado “naranja hai” que quer dizer (laranja azeda). Na imagem da esquerda para direita, Godofredo Sady Bueno, seu pai Gumercindo Bueno (in memoriam) juntamente com os peões e os cachorros perdigueiro que o auxiliavam.

Como eram as fazendas: “As fazendas do meu tempo de menino, na região de ponta Porã, eram semelhantes às outras. O casarão onde morava a família do fazendeiro, o imenso galpão onde se acomodavam os peões e ao lado, a mangueira (curral) para os trabalhos com o gado. Nos Fundos, a “encerra” onde se criavam os porcos. As casas das fazendas eram construídas, quase sempre, à beira do mato, perto de riacho. As roças ficavam perto”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 78.


Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto década de 50 na fazenda pertencente na época do Drº Henrique Grion, localizada na região do “guaymbé” próximo a lugar denominado “naranja hai” que quer dizer (laranja azeda). Na imagem Deidamia segurando sua filha Maura Lucia Bueno neste período com poucos meses de vida

Neste período histórico as fazendas da região tinham praticamente produzir quase tudo que necessitavam para o consumo, pois à distância e o difícil acesso dificultava o transporte de condimentos e mantimentos, desta forma se deslocar até o “bolicho” (mercadinho antigo que vendia de tudo) era se não a cada 15 dias, uma vez por mês ou dependendo passava se mais de mês sem sair da fazenda.

“Sal, trigo, tecido, ferramentas para o trabalho na agricultura, metais para uso em montarias, pregos, dobradiças, baldes, roldanas, querosene, arame, eram comprados, açúcar, a maioria dos fazendeiros não comprava, pois o uso do chamado açúcar crioulo era generalizado. Geralmente o que o fazendeiro não produzia recebia em troca de produtos de sua fabricação”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 78.

Mas nem tudo era somente trabalho neste tempo bailes hora ou outra saia um na região, esse só poderia ser frequentado por convidados, o anfitrião ou dono da festa ditava as regras que dependendo de quem era o estancieiro essas seriam mais severas ou mais brandas, mas dentro da moral e bons costumes da população local, tudo era providenciado e realizado dentro dos galpões ou em baixo das ramas tudo limpo e organizado e bem iluminado, os cavalos ou pingos como eram chamados nesta época eram conduzidos para os estábulos ou curral para lá ficarem até o fim da festança ou o proprietário seguir sua estrada, toda arma seja de fogo, facas, punhal  entre outras eram deixadas na portaria onde o dono da festa guardava para evitar qualquer tipo de transtorno durante o baile, todos os pertences no final eram devolvidos.

Os bailes geralmente eram em comemoração a algo, como foi relatado por Elpídio Reis: “Churrasco. Os Pontaporanense são, como poucos, afeiçoados ao churrasco. Tudo é motivo para um bom churrasco. Festa de noivado, de casamento, por exemplo, tem que ter um grande churrasco. Quando o filho completa o primeiro ano, mais outro churrasco. Se um fazendeiro convoca a vizinhança para um mutirão ou “puxirão”, como se diz nas fazendas da fronteira, o almoço churrasco. Se é dia de marcação de bezerrada outro churrasco”. ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 63.

Durante a o baile tudo era monitorado se alguém não cumprisse as regras era convidado para se retirar e assim manter a ordem. “As pistas de danças era ao ar livre, ou melhor, em baixo de uma ramada, com muito lampião dependurado. Muita luz, enfim. Em dado momento um moço beijou a testa da namorada, com quem dançava. O dono da casa, de olhos atentos, viu. Fez o par parar de dançar e ordenou que o rapaz se retirasse do baile e fosse embora e a moça foi para o quarto chorar”. Esse fato foi escrito por ELPÍDIO REIS, no seu livro Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 78. Segundo relatado, os pais da moça aprovaram a atitude do dono do baile, pois fora uma atitude em defesa da moral e bons costumes, e desta forma o baile continuou até o sol raiar. Isso em outros tempos em uma época distinta da formação e povoamento da região fronteiriça.

Esta era uma festa, baile considerado de primeira categoria onde eram mantidas as regras e dificilmente sairia um entrevero ou morte, mas como em todo lugar e época existia também os famosos bailes de segunda categoria, ou até os de terceira e assim por diante essas moças e rapazes de família não frequentavam esses bailes.

 Estes bailinhos fora descrito por Reis apud Serejo. 1981. “Arrasta-pé! Bailezito sertanejo, meio musiquiado, meio bochincho; festa de beira-de-mato, improvisado por uma nha ou por um caraí, a fim de vender batida, bolo, doce, bebida, chipa, amendoim torrado, rapadura de leite, churrasco e garapa”. Entreveros (brigas desavenças) ocorriam depois de tudo acertado à festança seguia menos para os valentões, pois um ou outro, sempre saia machucado.

E desta forma seguiu o crescimento e formação de novas fazendas estâncias, que dentro da evolução e povoamento da região onde pouco a pouco novos moradores e nascidos se fixaram na região,  contribuindo com o desenvolvimento desta vasta terra de histórias épicas que ficaram marcadas na memória nacional e no coração do povo fronteiriço.

Dificuldades e problemas no cotidiano de uma população existem, e sempre irá existir, o que devemos aprender com os pioneiros do passado, que dentro de suas lutas, ter a sabedoria de criar soluções práticas para superar os empecilhos que prejudiquem o desenvolvimento e o crescimento de uma cidade e região.

Viver o presente pensar no futuro, mas nunca se esquecer do passado assim se faz uma nação forte, pois um povo sem memória é um povo sem história. 


Pesquisador: Prof. Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. 

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