quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ponta Porã Linha do Tempo. Há 37 anos o sonho dos gaúchos tradicionalistas fronteiriços se realizava, surgia o CTG-Querência da Saudade na região.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno.


“Em matéria de Clube, Ponta Porã tem, desde 1978, um que merece referência especial: é o Centro de Tradições Gaúchas – Querência da Saudade e que já nasceu vitorioso. Fundado por um grupo de gaúchos e filhos de gaúchos, logo no primeiro ano o CTG começou a construção de uma sede campestre em terreno localizado a 6 km do centro da cidade, com 1500m² de área construída, onde já se acham prontos: salão restaurante, gabinete médico, sanitários, cozinhas, etc...” ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 128


Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto do fim da década de 70 CTG Querência da Saudade em destaque da esquerda para direita, Sebastião Roncatti e sua esposa Diomar Roncatti, de chapéu e bigode Alberi Venâncio posteiro da época, Godofredo Sady Bueno (in memoriam) um dos sócios fundadores do clube e sua esposa Deidamia Amarilha Godoy, em frente ao tradicional do bolicho do cocho velho.

Ponta Porã cidade fronteiriça carinhosamente apelidada como “Princesinha dos Ervais”, de histórias marcadas por fatos ricamente relatados por historiadores e escritores sul mato-grossenses, com Elpídio Reis, e de inúmeras pessoas que aqui fixaram sua morada, como também de descendentes que aqui cresceram, escutando e repassando essas histórias da criação de nossa cidade de nossa rica fronteira.


Arquivo pessoal Deidamia Amarilha Godoy: Baile Realizado no salão Paroquial São José Ponta Porã 1977, o referido baile foi para formalizar a composição, formação e construção do CTG Querência da saudade de Ponta Porã, com seus primeiros sócios fundadores. Em destaque na foto, Sebastião Silva e sua esposa Diomar Roncatt ladeado de Godofredo Sady Bueno (in memoriam) e Sua Esposa Deidamia Amarilha Godoy.

“Começam a chegar a Mato Grosso as comitivas do Rio Grande do sul, as causas dessa epopeia. Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de Mato Grosso se tornara conhecida pelos componentes da coluna do general Câmara, que operou nas cordilheiras de Amambaí e Maracaju, na sua fase final. Feita a desmobilização, os que regressaram à sua província natal Rio Grande do Sul levaram a notícia de que aqui existiam campos devolutos, próprios para criação de gado, e imensas matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.” ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 49.


Foto Arquivo da Família Rodrigues (Francisco Rodrigues in memoriam).  Acervo de Carlos Morel. Dom Rodrigues uruguaio trajado com vestimentas típicas da época (pilcha), patriarca da família Rodrigues pioneira na formação de fazendas estâncias ervateiras na região fronteiriça na virada do século XIX.

No fim do século XIX e início do século XX, neste período histórico da região fronteiriça ocorreu uma grande migração do sul do país principalmente do Rio Grande do Sul, “gaúchos”, que juntamente com as comitivas e tropeiros, vieram em busca de novas oportunidades existentes na imensidão de terras de Mato Grosso, isso se deu principalmente por fatos ocorridos no seu estado, à revolução de 1893 a 1895, entre elementos do que defendiam as causas do Partido Federalista e defensores das causas do Partido Republicano, este fato contribuiu para uma grande saída em massa do estado do Rio Grande do Sul, para fugir deste conflito várias famílias sulistas migraram para a região de fronteira. Vale ressaltar que o Partido Republicano saiu vitorioso neste conflito.

Os colonos gaúchos, por longos anos trabalharam a terra, muitas pastagens foram formadas, a exploração da erva mate, sendo um dos percussores Tomas Laranjeiras, que ajudou no desenvolvimento econômico da região, sendo grandemente explorada, por este motivo à cidade de Ponta Porã ganhou o apelido de “Princesinha dos Ervais”, o café também foi muito explorado por longos anos substituído com a mudança climática e econômica do país ao longo dos anos a soja invadiu os campos fronteiriços, à exploração de madeira que proporcionou a criação de centenas de madeireiras em pleno funcionamento até meados da década de 80 a grande maioria sendo afiliado de empresas da Região Sudeste.

Agropecuária e o que atraiu mais os gaúchos a região de fronteira, que mesmo com seus ganhos e com as famílias fixadas sentiam falta, saudade dos pampas rio-grandenses, por tais motivos juntamente com a vontade de vencer trouxe em sua bagagem a cultura o modo de ser e existir, os costumes tradicionalistas. 


Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto da década de 70 do início da formação do CTG Querência da Saudade, membros da diretoria e invernada do clube, neste evento recebendo diplomação do primeiro curso de formação de dança artística cultural promovida para sócios e membros das invernadas do clube.

Uma cultura gaúcha, que se destaca o churrasco que foi brilhantemente narrado por Elpídio Reis.

“Churrasco. Os Pontaporanense são, como poucos, afeiçoados ao churrasco. Tudo é motivo para um bom churrasco. Festa de noivado, de casamento, por exemplo, tem que ter um grande churrasco. Quando o filho completa o primeiro ano, mais outro churrasco. Se um fazendeiro convoca a vizinhança para um mutirão ou “puxirão”, como se diz nas fazendas da fronteira, o almoço churrasco. Se é dia de marcação de bezerrada outro churrasco”. ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 63. 


Arquivo pessoal Deidamia Amarilha Godoy: CTG Querência da saudade Ponta Porã grupo xiru década de 80, em destaque Deidamia Amarilha Godoy (Dada) e Godofredo Sady Bueno, de óculos ao fundo da imagem, Ângelo Perin idealizador e primeiro patrão do CTG.

Com um grandioso churrasco e muita festa a primeira reunião oficial dos gaúchos, descendentes e admiradores desta cultura sulista, para abraçar a causa do gaúcho Ângelo Perin, que depois de vir de uma de muitas de suas viagens do Rio Grande do Sul e de ver como estava a formação dos Centros tradicionalistas, os famosos CTG, idealizou a construção de um CTG em suas terras localizadas a aproximadamente 6 km do centro de Ponta Porã, na BR 164 na saída que leva a cidade vizinha Antonio João, para que o mesmo servisse de ponto de encontro para os antigos e novos descendentes de gaúchos da região fronteiriça, um clube de referências às tradições gaúchas, para tal empreitada contou com apoio e ajuda de muitos que dividiram e compartilharam deste ideal tradicionalista, o primeiro encontro oficial foi no salão da igreja matriz São José, localizado na Av. Brasil em 1977, reunindo a sociedade Pontaporanense e futuros sócios fundadores.



Arquivo pessoal do amigo Rodrigo Perin, seu pai Ângelo Perin idealizador e primeiro patrão do CTG Querência da Saudade de Ponta Porã – MS, discursando na sede do clube.

O CTG Querência da Saudade foi percussor na região fronteiriça no tradicionalismo gaúcho, incentivando outros a construir seu CTG, dar seguimento e propagar essa rica tradição, com passar dos anos grandes bailes ocorriam na sede do CTG, eventos que eram apreciados de tal maneira que gaúchos dos quatro cantos do país prestigiavam, convites eram reservados com meses de antecedências, o baile das debutantes fronteiriças de famílias tradicionais de nossa cidade, era um dos eventos mais esperados do ano, onde tantos os tradicionalistas, como a sociedade fronteiriça comparecia enchendo o salão do clube, para apreciar a glamorosa festa, que sempre era brindado com um excelente grupo oriundo do Rio Grande do Sul. 


Arquivo CTG Querência da Saudade: FEGAMS 1989 a origem do evento cultural da tradição gaúcha em Mato Grosso do sul.

Nada se faz só, sempre ao lado existem companheiros e companheiras tradicionalistas sempre a postos para dar suporte, esses inúmeros tradicionalistas e admiradores desta cultura, que sempre se fazem presentes quando necessário.

Viver o presente planejar o futuro se faz necessário, mas nunca se esquecer dos pioneiros do passado, como Ângelo Perin gaúcho tradicionalista, que concretizou um ideal, acreditando que era possível realizar esse sonho, de proporcionar uma parada, que a mesma servisse referencia a tantos gaúchos saudosos da sua pátria o Rio Grande do Sul.

Que sirvam de espelho os acontecimentos passados, que esses fatos não se apaguem da memória das novas e futuras gerações, que a história reverencie eternamente estes pioneiros, que proporcionaram a tantos o prazer de viver dentro do tradicionalismo gaúcho, aos futuros patrões que sempre consigam manter viva essa chama da cultura na região fronteiriça. 


Pesquisador e historiador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia Científica em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS

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domingo, 11 de janeiro de 2015

Ponta Porã Linha do tempo: A formação das fazendas e os bailes, no tempo dos ervais na região fronteiriça.

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno.

“A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável”.  Mahatma Gandhi

O desenvolvimento de uma região se faz necessário para que o progresso chegue, e com ele venha às novidades de novas tecnologias, para seguir amenizando as dificuldades do inicio da colonização, que os pioneiros tiveram que vencer para construir o seu sonho com sangue, suor e lagrimas na formação da região fronteiriça.

No inicio da formação das fazendas na região, nada foi fácil para quem se aventurou por estas terras vastas e misteriosas, que antes da divisão política dos estados brasileiros era composto por onde se localiza os estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, essa imensidão territorial estava longe dos grandes centros já em formação no Brasil.

“Começam a chegar a Mato Grosso as comitivas do Rio Grande do sul, as causas dessa epopeia. Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de Mato Grosso se tornara conhecida pelos componentes da coluna do general Câmara, que operou nas cordilheiras de Amambaí e Maracaju, na sua fase final. Feita a desmobilização, os que regressaram à sua província natal Rio Grande do Sul levaram a notícia de que aqui existiam campos devolutos, próprios para criação de gado, e imensas matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.” ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 49.


 Esta região neste período da formação histórica fronteiriça servia como parada de tropeiros e viajantes, esses oriundos principalmente do sul e de outros países que visualizavam oportunidades principalmente na exploração de erva mate entre outras riquezas minerais existentes.  


Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto década de 50. Empreitada para formação de novas pastagens na fazenda pertencente na época do Drº Henrique Grion, localizada na região do “guaymbé” próximo a lugar denominado “naranja hai” que quer dizer (laranja azeda). Na imagem da esquerda para direita, Godofredo Sady Bueno, seu pai Gumercindo Bueno (in memoriam) juntamente com os peões e os cachorros perdigueiro que o auxiliavam.

Como eram as fazendas: “As fazendas do meu tempo de menino, na região de ponta Porã, eram semelhantes às outras. O casarão onde morava a família do fazendeiro, o imenso galpão onde se acomodavam os peões e ao lado, a mangueira (curral) para os trabalhos com o gado. Nos Fundos, a “encerra” onde se criavam os porcos. As casas das fazendas eram construídas, quase sempre, à beira do mato, perto de riacho. As roças ficavam perto”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 78.


Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto década de 50 na fazenda pertencente na época do Drº Henrique Grion, localizada na região do “guaymbé” próximo a lugar denominado “naranja hai” que quer dizer (laranja azeda). Na imagem Deidamia segurando sua filha Maura Lucia Bueno neste período com poucos meses de vida

Neste período histórico as fazendas da região tinham praticamente produzir quase tudo que necessitavam para o consumo, pois à distância e o difícil acesso dificultava o transporte de condimentos e mantimentos, desta forma se deslocar até o “bolicho” (mercadinho antigo que vendia de tudo) era se não a cada 15 dias, uma vez por mês ou dependendo passava se mais de mês sem sair da fazenda.

“Sal, trigo, tecido, ferramentas para o trabalho na agricultura, metais para uso em montarias, pregos, dobradiças, baldes, roldanas, querosene, arame, eram comprados, açúcar, a maioria dos fazendeiros não comprava, pois o uso do chamado açúcar crioulo era generalizado. Geralmente o que o fazendeiro não produzia recebia em troca de produtos de sua fabricação”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 78.

Mas nem tudo era somente trabalho neste tempo bailes hora ou outra saia um na região, esse só poderia ser frequentado por convidados, o anfitrião ou dono da festa ditava as regras que dependendo de quem era o estancieiro essas seriam mais severas ou mais brandas, mas dentro da moral e bons costumes da população local, tudo era providenciado e realizado dentro dos galpões ou em baixo das ramas tudo limpo e organizado e bem iluminado, os cavalos ou pingos como eram chamados nesta época eram conduzidos para os estábulos ou curral para lá ficarem até o fim da festança ou o proprietário seguir sua estrada, toda arma seja de fogo, facas, punhal  entre outras eram deixadas na portaria onde o dono da festa guardava para evitar qualquer tipo de transtorno durante o baile, todos os pertences no final eram devolvidos.

Os bailes geralmente eram em comemoração a algo, como foi relatado por Elpídio Reis: “Churrasco. Os Pontaporanense são, como poucos, afeiçoados ao churrasco. Tudo é motivo para um bom churrasco. Festa de noivado, de casamento, por exemplo, tem que ter um grande churrasco. Quando o filho completa o primeiro ano, mais outro churrasco. Se um fazendeiro convoca a vizinhança para um mutirão ou “puxirão”, como se diz nas fazendas da fronteira, o almoço churrasco. Se é dia de marcação de bezerrada outro churrasco”. ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 63.

Durante a o baile tudo era monitorado se alguém não cumprisse as regras era convidado para se retirar e assim manter a ordem. “As pistas de danças era ao ar livre, ou melhor, em baixo de uma ramada, com muito lampião dependurado. Muita luz, enfim. Em dado momento um moço beijou a testa da namorada, com quem dançava. O dono da casa, de olhos atentos, viu. Fez o par parar de dançar e ordenou que o rapaz se retirasse do baile e fosse embora e a moça foi para o quarto chorar”. Esse fato foi escrito por ELPÍDIO REIS, no seu livro Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 78. Segundo relatado, os pais da moça aprovaram a atitude do dono do baile, pois fora uma atitude em defesa da moral e bons costumes, e desta forma o baile continuou até o sol raiar. Isso em outros tempos em uma época distinta da formação e povoamento da região fronteiriça.

Esta era uma festa, baile considerado de primeira categoria onde eram mantidas as regras e dificilmente sairia um entrevero ou morte, mas como em todo lugar e época existia também os famosos bailes de segunda categoria, ou até os de terceira e assim por diante essas moças e rapazes de família não frequentavam esses bailes.

 Estes bailinhos fora descrito por Reis apud Serejo. 1981. “Arrasta-pé! Bailezito sertanejo, meio musiquiado, meio bochincho; festa de beira-de-mato, improvisado por uma nha ou por um caraí, a fim de vender batida, bolo, doce, bebida, chipa, amendoim torrado, rapadura de leite, churrasco e garapa”. Entreveros (brigas desavenças) ocorriam depois de tudo acertado à festança seguia menos para os valentões, pois um ou outro, sempre saia machucado.

E desta forma seguiu o crescimento e formação de novas fazendas estâncias, que dentro da evolução e povoamento da região onde pouco a pouco novos moradores e nascidos se fixaram na região,  contribuindo com o desenvolvimento desta vasta terra de histórias épicas que ficaram marcadas na memória nacional e no coração do povo fronteiriço.

Dificuldades e problemas no cotidiano de uma população existem, e sempre irá existir, o que devemos aprender com os pioneiros do passado, que dentro de suas lutas, ter a sabedoria de criar soluções práticas para superar os empecilhos que prejudiquem o desenvolvimento e o crescimento de uma cidade e região.

Viver o presente pensar no futuro, mas nunca se esquecer do passado assim se faz uma nação forte, pois um povo sem memória é um povo sem história. 


Pesquisador: Prof. Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação.