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Yhulds Giovani Pereira Bueno.
“Em matéria de Clube, Ponta Porã tem, desde
1978, um que merece referência especial: é o Centro de Tradições Gaúchas –
Querência da Saudade e que já nasceu vitorioso. Fundado por um grupo de gaúchos
e filhos de gaúchos, logo no primeiro ano o CTG
começou a construção de uma sede campestre em terreno localizado a 6 km do
centro da cidade, com 1500m² de área construída, onde já se acham prontos:
salão restaurante, gabinete médico, sanitários, cozinhas, etc...” ELPIDIO REIS,
Ponta Porã Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 128.
Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy: Foto
do fim da década de 70 CTG Querência da Saudade em destaque da esquerda para
direita, Sebastião Roncatti e sua esposa Diomar Roncatti, de chapéu e bigode
Alberi Venâncio posteiro da época, Godofredo Sady Bueno (in memoriam) um dos
sócios fundadores do clube e sua esposa Deidamia Amarilha Godoy, em frente ao
tradicional do bolicho do cocho velho.
Ponta Porã cidade
fronteiriça carinhosamente apelidada como “Princesinha dos Ervais”, de
histórias marcadas por fatos ricamente relatados por historiadores e escritores
sul mato-grossenses, com Elpídio Reis, e de inúmeras pessoas que aqui fixaram
sua morada, como também de descendentes que aqui cresceram, escutando e
repassando essas histórias da criação de nossa cidade de nossa rica fronteira.
Arquivo pessoal Deidamia Amarilha Godoy: Baile Realizado no
salão Paroquial São José Ponta Porã 1977, o referido baile foi para formalizar
a composição, formação e construção do CTG Querência da saudade de Ponta Porã,
com seus primeiros sócios fundadores. Em destaque na foto, Sebastião Silva e
sua esposa Diomar Roncatt ladeado de Godofredo Sady Bueno (in memoriam) e Sua
Esposa Deidamia Amarilha Godoy.
“Começam
a chegar a Mato Grosso as comitivas do Rio Grande do sul, as causas dessa
epopeia. Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de Mato Grosso se
tornara conhecida pelos componentes da coluna do general Câmara, que operou nas
cordilheiras de Amambaí e Maracaju, na sua fase final. Feita a desmobilização,
os que regressaram à sua província natal Rio Grande do Sul levaram a notícia de
que aqui existiam campos devolutos, próprios para criação de gado, e imensas
matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.” ELPIDIO REIS, Ponta Porã
Polca, churrasco e chimarrão, Rio, 1981. Pág. 49.
Foto Arquivo da Família Rodrigues (Francisco
Rodrigues in memoriam). Acervo de Carlos
Morel. Dom Rodrigues uruguaio trajado com vestimentas típicas da época (pilcha),
patriarca da família Rodrigues pioneira na formação de fazendas estâncias ervateiras
na região fronteiriça na virada do século XIX.
No
fim do século XIX e início do século XX, neste período histórico da região
fronteiriça ocorreu uma grande migração do sul do país principalmente do Rio
Grande do Sul, “gaúchos”, que juntamente com as comitivas e tropeiros, vieram
em busca de novas oportunidades existentes na imensidão de terras de Mato
Grosso, isso se deu principalmente por fatos ocorridos no seu estado, à
revolução de 1893 a 1895, entre elementos do que defendiam as causas do Partido
Federalista e defensores das causas do Partido Republicano, este fato
contribuiu para uma grande saída em massa do estado do Rio Grande do Sul, para
fugir deste conflito várias famílias sulistas migraram para a região de fronteira.
Vale ressaltar que o Partido Republicano saiu vitorioso neste conflito.
Os
colonos gaúchos, por longos anos trabalharam a terra, muitas pastagens foram
formadas, a exploração da erva mate, sendo um dos percussores Tomas
Laranjeiras, que ajudou no desenvolvimento econômico da região, sendo grandemente
explorada, por este motivo à cidade de Ponta Porã ganhou o apelido de
“Princesinha dos Ervais”, o café também foi muito explorado por longos anos
substituído com a mudança climática e econômica do país ao longo dos anos a
soja invadiu os campos fronteiriços, à exploração de madeira que proporcionou a
criação de centenas de madeireiras em pleno funcionamento até meados da década
de 80 a grande maioria sendo afiliado de empresas da Região Sudeste.
Agropecuária
e o que atraiu mais os gaúchos a região de fronteira, que mesmo com seus ganhos
e com as famílias fixadas sentiam falta, saudade dos pampas rio-grandenses, por
tais motivos juntamente com a vontade de vencer trouxe em sua bagagem a cultura
o modo de ser e existir, os costumes tradicionalistas.
Arquivo pessoal de Deidamia Amarilha Godoy:
Foto da década de 70 do início da formação do CTG Querência da Saudade, membros
da diretoria e invernada do clube, neste evento recebendo diplomação do
primeiro curso de formação de dança artística cultural promovida para sócios e
membros das invernadas do clube.
Uma
cultura gaúcha, que se destaca o churrasco que foi brilhantemente narrado por
Elpídio Reis.
“Churrasco.
Os Pontaporanense são, como poucos, afeiçoados ao churrasco. Tudo é motivo para
um bom churrasco. Festa de noivado, de casamento, por exemplo, tem que ter um
grande churrasco. Quando o filho completa o primeiro ano, mais outro churrasco.
Se um fazendeiro convoca a vizinhança para um mutirão ou “puxirão”, como se diz
nas fazendas da fronteira, o almoço churrasco. Se é dia de marcação de
bezerrada outro churrasco”. ELPIDIO REIS, Ponta Porã Polca, churrasco e
chimarrão, Rio, 1981. Pág. 63.
Arquivo pessoal Deidamia Amarilha Godoy: CTG
Querência da saudade Ponta Porã grupo xiru década de 80, em destaque Deidamia
Amarilha Godoy (Dada) e Godofredo Sady Bueno, de óculos ao fundo da imagem,
Ângelo Perin idealizador e primeiro patrão do CTG.
Com um grandioso
churrasco e muita festa a primeira reunião oficial dos gaúchos, descendentes e
admiradores desta cultura sulista, para abraçar a causa do gaúcho Ângelo Perin,
que depois de vir de uma de muitas de suas viagens do Rio Grande do Sul e de
ver como estava a formação dos Centros tradicionalistas, os famosos CTG,
idealizou a construção de um CTG em suas terras localizadas a aproximadamente 6
km do centro de Ponta Porã, na BR 164 na saída que leva a cidade vizinha
Antonio João, para que o mesmo servisse de ponto de encontro para os antigos e
novos descendentes de gaúchos da região fronteiriça, um clube de referências às
tradições gaúchas, para tal empreitada contou com apoio e ajuda de muitos que
dividiram e compartilharam deste ideal tradicionalista, o primeiro encontro
oficial foi no salão da igreja matriz São José, localizado na Av. Brasil em
1977, reunindo a sociedade Pontaporanense e futuros sócios fundadores.
Arquivo
pessoal do amigo Rodrigo Perin, seu pai Ângelo Perin idealizador e primeiro
patrão do CTG Querência da Saudade de Ponta Porã – MS, discursando na sede do
clube.
O CTG Querência da Saudade foi percussor na
região fronteiriça no tradicionalismo gaúcho, incentivando outros a construir
seu CTG, dar seguimento e propagar essa rica tradição, com passar dos anos
grandes bailes ocorriam na sede do CTG, eventos que eram apreciados de tal
maneira que gaúchos dos quatro cantos do país prestigiavam, convites eram
reservados com meses de antecedências, o baile das debutantes fronteiriças de
famílias tradicionais de nossa cidade, era um dos eventos mais esperados do
ano, onde tantos os tradicionalistas, como a sociedade fronteiriça comparecia
enchendo o salão do clube, para apreciar a glamorosa festa, que sempre era
brindado com um excelente grupo oriundo do Rio Grande do Sul.
Arquivo CTG Querência da Saudade: FEGAMS 1989 a
origem do evento cultural da tradição gaúcha em Mato Grosso do sul.
Nada se faz só, sempre ao lado existem companheiros e
companheiras tradicionalistas sempre a postos para dar suporte, esses inúmeros
tradicionalistas e admiradores desta cultura, que sempre se fazem presentes
quando necessário.
Viver o presente planejar o futuro se faz necessário, mas
nunca se esquecer dos pioneiros do passado, como Ângelo Perin gaúcho
tradicionalista, que concretizou um ideal, acreditando que era possível
realizar esse sonho, de proporcionar uma parada, que a mesma servisse
referencia a tantos gaúchos saudosos da sua pátria o Rio Grande do Sul.
Que sirvam de espelho os acontecimentos passados, que esses
fatos não se apaguem da memória das novas e futuras gerações, que a história
reverencie eternamente estes pioneiros, que proporcionaram a tantos o prazer de
viver dentro do tradicionalismo gaúcho, aos futuros patrões que sempre consigam
manter viva essa chama da cultura na região fronteiriça.
Pesquisador e historiador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado
em Metodologia Científica em História e Geografia. Professor de qualificação
profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federais). Professor
coordenador da Rede Municipal de Educação, membro do Grupo Xiru do CTG –
Querência da Saudade – Ponta Porã – MS
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