segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ponta Porã linha do tempo: Causos da região fronteiriça. Bandoleiro “BARULHO” o terror das patrulhas volantes

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno.

“Quando cubro um macaco na mira do meu rifle, ele morre porque Deus quer; se Ele não quisesse, eu errava o alvo.” Virgulino Ferreira da Silva. “Lampião”. Rei do cangaço (BANDOLEIRO) nordestino no início do século XX.

Desde que o mundo existe, os conflitos e a violência fizeram e continuam a fazer parte do povoamento e desenvolvimento, durante a expansão territorial no contexto sociocultural do ser humano, isso registrado em documentos, escrituras inseridas nas mais diversas civilizações e religiões, não que isso seja certo, longe de se fazer uma apologia à violência ou reverencia-la, mas infelizmente faz parte do cotidiano histórico da população no passado e presente, não diferente na fronteira os entreveros que no dicionário informal significa: (brigas, discussão, confusão, desavenças etc...), sempre foram marcas desta região.

            Em certo dia lá pelos idos de 1930 apareceu na região fronteiriça um viajante, pelas vestimentas só podia ser mais um do Rio Grande do Sul, este veio a se aventurar por estas terras, pela maneira de falar e de se portar logo ficou conhecido como “Barulho” um típico bandoleiro, mas o que é bandoleiro? Definido no dicionário sendo uma pessoa que não para em lugar nenhum anda de um lugar para o outro a procura de diversão.

            Neste período histórico muitos viajantes passavam pela região, como as comitivas e tropeiros para aqui fazer sua parada e negociar terras e suas mercadorias, a compra e venda era algo corriqueiro, principalmente de gado e cavalos, isso ocorria nos dois lados da fronteira.


“Nem todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.


Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto década de 40. Acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que serviu no 11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã na década de 40, Cabo Itrio era um admirador da arte de tirar fotos, desta forma ao longo dos anos ele agregou ao seu acervo centenas de ricas imagens da região de fronteira. Esta imagem da fazenda de criação de gado na região do Maemi próximo a Rincão de Julho.   

No inicio Barulho” ficou conhecido na região como negociante de gado, cavalo e mercadorias, pegava empreitadas e sempre estava viajando, visto aqui ali como se diz na fronteira, hora ou outra tinha no lombo do cavalo um volume grande bem enrolado, mas com o passar do tempo descobriu que o mesmo vitimava os viajantes e tropeiros da região, e que os volumes que carregava no lombo do cavalo eram os corpos de suas vitimas.
Os corpos eram levados ao um poço localizado na região do “Rincão de Julho”, este poço ninguém ao certo sabe quem teria feito se o próprio “Barulho” ou se esse já existia, o fato que o poço era utilizado para ser depositado às vitima. Por anos “Barulho” estava realizando tal façanha trágica, envolvido em roubo de gado e cavalo, logo a fama de quatreiro (na língua espanhola se lê cuatrero, bandido, assaltante) se espalhou e o mesmo começou a ser perseguido pelas “Patrulhas volantes” da região fronteiriça.

Os estancieiros da região já algum tempo estavam desconfiados das atitudes de “Barulho”, que já começara a vitimar pessoas próximas do seu convívio dentro do seu circulo de conhecidos e amizades, como não existe crime perfeito um dos ataques de “Barulho” fracassou, pois foi recebido a tiros na pequena estância que era do seu compadre, o mesmo alegou que estava de visita, em uma hora meio estranha, por ser de madrugada, na calada da noite sem avisar e direcionada aos gados da estância.

Sem sucesso e para complicar mais a vida de “Barulho” este quatreiro, o famoso poço com os corpos fora achado por nativos (índios) da região, o alvoroço estava feito algumas dúzias de corpos, alguns a mais de anos, nem todos os corpos foram retirados pelo estado que se encontravam, o poço foi lacrado sendo este o tumulo para as vitimas, muitas delas desconhecidas, pois poderiam ser viajantes e tropeiros, que passavam pela região. A revolta tomou conta dos valentes da região, os estancieiros e a peonada juntaram forças e  formaram as “Patrulhas Volantes” para fazer a varredura e captura do “Barulho”, agora conhecido como bandoleiro e quatreiro sanguinário.

“Entre os ervateiros paraguaios sempre foi conhecida como patrulha bolante, Tanto do lado brasileiro como no lado paraguaio a sua missão era esta: prender se possível, ou matar, na fuga”. SEREJO, Hélio. Pialando... No Mas, p. 81.

Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), o mesmo era um admirador da arte de tirar fotos. Esta imagem estancieiros que formavam as famosas “Patrulhas Volantes” da região do Maemi nas proximidades de Rincão de Julho década de 40.

“Barulho” agora tinha ao seu encalço as “Patrulhas volantes” que certo dia reuniu mais de 200 homens valentes da região para realizar a caçada final ao temido “Barulho” o cerco se estendeu por toda região, a caçada foi árdua, pois quando avistava alguma “Patrulha Volante”, “Barulho” trocava tiros e conseguia se esgueirando escapar, (esgueirar é definido no dicionário como sair às escondidas sorrateiramente).

O desfecho da perseguição se deu perto da fronteira próximo a região de Potrero Ortiz. (Potrero definição dentro da língua espanhola El que cuida de los potros dehesa, lugar destinado a la cria y pasto de ganado cabalar), na região conhecida como “cipoal” (cipó nativo), segundo relato de quem sabe de tal história, já cansado pela fuga e praticamente cercado “Barulho” se enterrou em um lamaçal próximo a um alagado, deixando somente o nariz para fora assim poderia respirar, quando os volantes se aproximavam ele se enterrava mais para não ser notado e só tirava o nariz para fora quando percebia que a Patrulha já estava longe.

Achando que todas as “Patrulhas Volantes” já haviam passado, ele não imaginava que um dos volantes ficou para traz arrumando os arreios do cavalo já cansado de tanto cavalgar na captura do quatrero, “Barulho” se desenterrou da lama e se deparou com o volanteiro na sua frente ao tentar sacar seu revolver o mesmo sujo de lama falhou, algo que não aconteceu com arma do volanteiro que sem piedade ou remorso descarregou a munição no quatreiro que tombou no lamaçal, agora para nunca mais tirar o nariz ou se levantar da lama.

Com os pipocos que ecoaram por campo aberto os outros membros das Patrulhas volantes foram chegando, ao se depararem com o bandoleiro caído morto na lama, muitos tiros foram dados de aviso chamando as outras Patrulhas volantes, mas conta o causo que não eram dados somente tiros ao alto, mas no quatreiro agora sem mais esboçar reação.

Esse foi o fim do “Barulho” bandoleiro, quatreiro sanguinário, que como suas vitimas foi enterrado em algum lugar deste rincão, ali tombou e ficou sua história não é bonita de se contar, por décadas ficou adormecida, pois herói ele não foi, seu erro foi cobiçar o que não lhe pertencia e matar para conseguir seu objetivo, duvidou da bravura dos valentes da região dos filhos e pioneiros desta terra, que recebe quem chega de braços abertos, mas não tolera desaforo.

“Aos bravos pioneiros que desbravaram florestas e campos das terras que construíram o outrora extenso Município de Ponta Porã, aos que ali lutaram como autênticos heróis dos sertões contra todas as dificuldades e infortúnios, aos que não estudaram e aos que morreram de doenças comuns, porque nas lonjuras onde moravam não havia escolas nem médicos, aos que cruzaram campinas e matas abrindo trilhas que depois se transformaram em estradas para o progresso, aos que trabalharam muitas vezes em condições desumanas em ranchadas ervaterias, em fazendas sem conforto, para o enriquecimento da região e do Brasil”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 13.

Coragem marca dos bravos pioneiros da região fronteiriça de outros tempos, onde o respeito e a palavra empenhada eram marca do sobre nome de uma família, o fio do bigode valia mais que assinatura de pena e tinta, e o aperto de mão selavam os negócios da região e desonestidade e desonra era lavada com sangue.
Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação





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