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Yhulds Giovani Pereira Bueno.
“Quando cubro um
macaco na mira do meu rifle, ele morre porque Deus quer; se Ele não quisesse,
eu errava o alvo.” Virgulino
Ferreira da Silva. “Lampião”. Rei do cangaço (BANDOLEIRO) nordestino no início
do século XX.
Desde que o mundo existe, os conflitos e a violência
fizeram e continuam a fazer parte do povoamento e desenvolvimento, durante a
expansão territorial no contexto sociocultural do ser humano, isso registrado
em documentos, escrituras inseridas nas mais diversas civilizações e religiões,
não que isso seja certo, longe de se fazer uma apologia à violência ou reverencia-la,
mas infelizmente faz parte do cotidiano histórico da população no passado e
presente, não diferente na fronteira os entreveros que no dicionário informal
significa: (brigas, discussão, confusão, desavenças etc...), sempre foram marcas
desta região.
Em certo dia lá pelos idos de 1930 apareceu na região
fronteiriça um viajante, pelas vestimentas só podia ser mais um do Rio Grande
do Sul, este veio a se aventurar por estas terras, pela maneira de falar e de
se portar logo ficou conhecido como “Barulho” um típico bandoleiro, mas o que é bandoleiro? Definido no dicionário sendo uma pessoa
que não para em lugar nenhum anda de um lugar para o outro a procura de
diversão.
Neste período histórico muitos
viajantes passavam pela região, como as comitivas e tropeiros para aqui fazer
sua parada e negociar terras e suas mercadorias, a compra e venda era algo
corriqueiro, principalmente de gado e cavalos, isso ocorria nos dois lados da
fronteira.
“Nem todos os integrantes das
comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se
dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação
de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo
de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.
Ponta
Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto década de 40. Acervo
de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que serviu no
11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã na década de 40, Cabo Itrio
era um admirador da arte de tirar fotos, desta forma ao longo dos anos ele
agregou ao seu acervo centenas de ricas imagens da região de fronteira. Esta
imagem da fazenda de criação de gado na região do Maemi próximo a Rincão de
Julho.
No inicio “Barulho”
ficou conhecido na região como negociante de gado, cavalo e mercadorias, pegava
empreitadas e sempre estava viajando, visto aqui ali como se diz na fronteira,
hora ou outra tinha no lombo do cavalo um volume grande bem enrolado, mas com o
passar do tempo descobriu que o mesmo vitimava os viajantes e tropeiros da
região, e que os volumes que carregava no lombo do cavalo eram os corpos de
suas vitimas.
Os corpos eram levados
ao um poço localizado na região do “Rincão de Julho”, este poço ninguém ao
certo sabe quem teria feito se o próprio “Barulho” ou se esse já existia, o
fato que o poço era utilizado para ser depositado às vitima. Por anos “Barulho”
estava realizando tal façanha trágica, envolvido em roubo de gado e cavalo,
logo a fama de quatreiro (na língua espanhola se lê cuatrero, bandido,
assaltante) se espalhou e o mesmo começou a ser perseguido pelas “Patrulhas
volantes” da região fronteiriça.
Os estancieiros da região já algum tempo estavam desconfiados
das atitudes de “Barulho”, que já começara a vitimar pessoas próximas do seu
convívio dentro do seu circulo de conhecidos e amizades, como não existe crime
perfeito um dos ataques de “Barulho” fracassou, pois foi recebido a tiros na
pequena estância que era do seu compadre, o mesmo alegou que estava de visita,
em uma hora meio estranha, por ser de madrugada, na calada da noite sem avisar
e direcionada aos gados da estância.
Sem sucesso e para complicar mais a vida de “Barulho” este
quatreiro, o famoso poço com os corpos fora achado por nativos (índios) da
região, o alvoroço estava feito algumas dúzias de corpos, alguns a mais de
anos, nem todos os corpos foram retirados pelo estado que se encontravam, o
poço foi lacrado sendo este o tumulo para as vitimas, muitas delas desconhecidas,
pois poderiam ser viajantes e tropeiros, que passavam pela região. A revolta
tomou conta dos valentes da região, os estancieiros e a peonada juntaram forças
e formaram as “Patrulhas Volantes” para
fazer a varredura e captura do “Barulho”, agora conhecido como bandoleiro e
quatreiro sanguinário.
“Entre os ervateiros paraguaios sempre foi
conhecida como patrulha bolante, Tanto do lado brasileiro como no lado
paraguaio a sua missão era esta: prender se possível, ou matar, na fuga”.
SEREJO, Hélio. Pialando... No Mas, p. 81.
Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza
Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como
(cabo Itrio), o mesmo era um admirador da arte de tirar fotos. Esta imagem
estancieiros que formavam as famosas “Patrulhas Volantes” da região do Maemi nas
proximidades de Rincão de Julho década de 40.
“Barulho” agora tinha
ao seu encalço as “Patrulhas volantes” que certo dia reuniu mais de 200 homens
valentes da região para realizar a caçada final ao temido “Barulho” o cerco se
estendeu por toda região, a caçada foi árdua, pois quando avistava alguma “Patrulha
Volante”, “Barulho” trocava tiros e conseguia se esgueirando escapar,
(esgueirar é definido no dicionário como sair às escondidas sorrateiramente).
O desfecho da perseguição se deu perto da fronteira
próximo a região de Potrero Ortiz. (Potrero definição dentro da língua espanhola
El que cuida de los potros dehesa, lugar destinado a la cria y pasto de ganado
cabalar), na região conhecida como “cipoal” (cipó nativo), segundo relato de
quem sabe de tal história, já cansado pela fuga e praticamente cercado “Barulho”
se enterrou em um lamaçal próximo a um alagado, deixando somente o nariz para
fora assim poderia respirar, quando os volantes se aproximavam ele se enterrava
mais para não ser notado e só tirava o nariz para fora quando percebia que a
Patrulha já estava longe.
Achando que todas as “Patrulhas
Volantes” já haviam passado, ele não imaginava que um dos volantes ficou para
traz arrumando os arreios do cavalo já cansado de tanto cavalgar na captura do
quatrero, “Barulho” se desenterrou da lama e se deparou com o volanteiro na sua
frente ao tentar sacar seu revolver o mesmo sujo de lama falhou, algo que não
aconteceu com arma do volanteiro que sem piedade ou remorso descarregou a
munição no quatreiro que tombou no lamaçal, agora para nunca mais tirar o nariz
ou se levantar da lama.
Com os pipocos que
ecoaram por campo aberto os outros membros das Patrulhas volantes foram
chegando, ao se depararem com o bandoleiro caído morto na lama, muitos tiros
foram dados de aviso chamando as outras Patrulhas volantes, mas conta o causo
que não eram dados somente tiros ao alto, mas no quatreiro agora sem mais
esboçar reação.
Esse foi o fim do “Barulho”
bandoleiro, quatreiro sanguinário, que como suas vitimas foi enterrado em algum
lugar deste rincão, ali tombou e ficou sua história não é bonita de se contar,
por décadas ficou adormecida, pois herói ele não foi, seu erro foi cobiçar o
que não lhe pertencia e matar para conseguir seu objetivo, duvidou da bravura
dos valentes da região dos filhos e pioneiros desta terra, que recebe quem
chega de braços abertos, mas não tolera desaforo.
“Aos bravos
pioneiros que desbravaram florestas e campos das terras que construíram o
outrora extenso Município de Ponta Porã, aos que ali lutaram como autênticos
heróis dos sertões contra todas as dificuldades e infortúnios, aos que não
estudaram e aos que morreram de doenças comuns, porque nas lonjuras onde
moravam não havia escolas nem médicos, aos que cruzaram campinas e matas
abrindo trilhas que depois se transformaram em estradas para o progresso, aos
que trabalharam muitas vezes em condições desumanas em ranchadas ervaterias, em
fazendas sem conforto, para o enriquecimento da região e do Brasil”. Reis.
Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 13.
Coragem marca dos bravos pioneiros da região fronteiriça de outros
tempos, onde o respeito e a palavra empenhada eram marca do sobre nome de uma
família, o fio do bigode valia mais que assinatura de pena e tinta, e o aperto
de mão selavam os negócios da região e desonestidade e desonra era lavada com
sangue.
Pesquisador: Yhulds Giovani
Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.
Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas
Municipais, Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede
Municipal de Educação
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