domingo, 28 de dezembro de 2014

Ponta Porã Linha do Tempo: Narrativas de fatos históricos culturais. Causos e lendas da região fronteiriça.

A lenda do piano da madame Lynch, a primeira dama a eterna companheira de López.

"As mulheres são os arquitetos reais da sociedade." (Harriet Beecher Stowe).

*Yhulds Giovani Pereira Bueno.

Ao lado de um grande homem sempre terá uma grande mulher, não diferente dos grandes estadistas e imperadores López escolheu para sua companheira uma guerreira que o acompanharia até seus últimos dias nos campos de batalha.

Muitas histórias e lendas cercam a vida épica da madame Lynch amada e rejeitada por muitos em seu tempo.


Vamos fazer uma breve analogia de Elisa Alicia Lynch, pois segundo fontes históricas nasceu em Cork cidade localizada na Irlanda, em 1834. Depois de ter um breve casamento, isso ocorreu quando ela tinha 15 anos, seu primeiro marido fora um renomado cirurgião francês. Lynch era uma bela irlandesa sua origem se mostrou latente em suas atitudes firmes sempre apoiando López nos campos de batalha.


“Madame Lynch le dio a Solano López cinco hijos. Se transformó en la hacendada más importante del país cuando Solano López le transfirió buenas partes del Paraguay y porciones de Brasil a su nombre durante la guerra pero no retuvo nada cuando la guerra terminó”. Fonte e imagem, http://narraciones.tripod.com/paraguay/cap07.html

Lynch conheceria Solano López o herdeiro da dinastia “López” segundo relatos de pesquisadores, historiadores e escritores em janeiro de 1854, em Paris, pois ambos frequentavam a corte de Napoleão III, já neste período histórico foi feito general e presidente, após a consolidação destes poderes López fora à Europa para através de apoio adquirir barcos e armas. Lynch e López jamais se casariam isso se deu devido a seu matrimônio anterior, mas juntos teriam cinco filhos.

Desta maneira se tornou conhecida como "madame (senhora)" e muitas vezes apontada como "cortesã" pelos opositores de López, esses críticos ferrenhos (inflexíveis) nesse período histórico do estilo parisiense que López impôs ao seu país, mas através deste estilo refinado de vida, ele foi incentivando a música e a arte e concentrando enorme poder, o que fez acumular muitos inimigos e também centenas admiradores fieis que o apoiariam até a sua morte.

Não vamos nos aprofundar nos eventos que culminaram na guerra da “tríplice aliança a Guerra do Paraguay” ou as circunstancias de acontecimentos épicos, e sim uam narrativa histórica cercada de mistérios, que até os dias atuais ainda paira no ar da região de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, fronteira essa que faz parte do desfecho final da “Guerra do Paraguay”.

Segue fato transmitido de forma “oral” por gerações, contado por quem conviveu e cresceu escutando as histórias e lendas da região de fronteira, principalmente dos tesouros escondidos durante a guerra, os famosos (achados ou enterros de López), que antes da ”Retirada da Laguna”, evento esse que foi narrado e retratado no livro de Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, primeiro e único visconde de Taunay, este fora um nobre aristocrata brasileiro, que também em seu tempo exercia as profissões de: escritor, artista plástico, professor, engenheiro, militar, historiador e sociólogo.

Muitas das comitivas que acompanhavam López no período da guerra transportavam seus “tesouros” dos mais variados e valiosos, madame Lynch também tinha os seus valiosos pertences, entres esses um lindo piano de estilo europeu, que segundo a lenda (causo) contada ecoava pelos campos e pelas serras quando tocado por ela, o som era tão lindo que até os inimigos paravam para escutar. 

“Nacido en 1826, Francisco Solano López fue el segundo y último gobernante de la dinastía López”.  Fonte e imagem, http://narraciones.tripod.com/paraguay/cap07.html

Segundo lenda (causo) quando ouve a “Retirada da Laguna”, para proteger seus pertences, muitos enterraram, outros enviaram a diferentes locais, mas madame Lynch segundo lenda contada juntou todas suas joias como também ouro e prata, guardando tudo que conseguia dentro de seu piano, segue história que durante a “Retirada da Laguna” e o confronto final na região do “Cerro Corá”, o piano de madame Lynch desapareceu, muito mistério e lendas cercam este fato da historia da guerra, que não consta nos registros históricos ou nas enumeras bibliografias editadas dentro e fora do continente, sobre o maior confronto armado da América do Sul, pois é relatado pelos fronteiriços que contam suas histórias e lendas repassando de geração em geração.

A lenda do piano de madame Lynch e seus tesouros são rodeados de muitas histórias cheias de mistérios. Uns dizem que o piano fora enterrado próximo da “Laguna”, outros que fora levado junto com López para “Cerro Corá” e ainda esta escondido naquela região, pois muitos que por ali passam, escutam o som do piano nas matas e cerros, tem aqueles que contam através de seus causos da guerra, que fora enterrado pela própria madame Lynch junto ao corpo de López, mas a maioria defende que achado pelos soldados da “Tríplice Aliança”, o fato é que suas riquezas despertam até hoje a cobiça de muitos que se pudessem, se aventurariam para achar o piano de madame Lynch e todas suas riquezas épicas.

Mas alguns fatos foram levantados por um historiador conterrâneo de madame Lynch o Irlandês Michael Lillis, desde que o seu trabalho de investigação se intensificou, em 1999, alguns dos mitos em torno de "madame Lynch" caíram, como a história de que teria morrido na miséria e sepultada como indigente. Segundo Lillis, isso faz parte da mitologia positiva do sobre o assunto.

Lillis em visita a casa em que ela morreu, em 1886 relata que fora uma das melhores casas de Paris em sua época, pesquisando sobre a história da bela casa, segundo relatos repassados por gerações sobre casa Parisiense onde madame Lynch morou até sua morte, que todos que passavam pela rua naqueles tempos escutavam um lindo som de piano que saia de dentro da casa se misturando com o vento. 

Outro ponto levantado pelo pesquisador Lillis, é que madame Lynch fora sepultada em um cemitério reservado somente as elites daquele período em Paris.

Hoje sua bravura é respeitada, seus feitos heroicos e o fato de nunca ter abandonado Lopez, fez com que todos de forma direta e indireta a reconheçam como heroína em seu tempo.

Respeitar o passado é reverenciar a todos aqueles que de alguma maneira contribuíram para a evolução história cultural de uma nação, pois história vira lenda e lenda vira causo na região fronteiriça. 

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino de História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação.




quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Soldados do destacamento do 11º RC década de 40 em patrulhamento.

Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que serviu no 11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã, Cabo Itrio era um admirador da arte de tirar fotos, desta forma ao longo dos anos ele agregou ao seu acervo centenas de ricas imagens da região de fronteira. Esta imagem de soldados do destacamento do 11º RC década de 40 com o jeep que fazia neste período histórico o patrulhamento na região de fronteira para desta forma coibir o contrabando na região.

Soldados do destacamento do 11º RC década de 40 Ponta Porã MS


Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que serviu no 11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã, Cabo Itrio era um admirador da arte de tirar fotos, desta forma ao longo dos anos ele agregou ao seu acervo centenas de ricas imagens da região de fronteira. Esta imagem de soldados do destacamento do 11º RC década de 40 no primeiros nos de formação do Regimento de Cavalaria em Ponta Porã.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ponta Porã linha do tempo: Causos da região fronteiriça. Bandoleiro “BARULHO” o terror das patrulhas volantes

·         Yhulds Giovani Pereira Bueno.

“Quando cubro um macaco na mira do meu rifle, ele morre porque Deus quer; se Ele não quisesse, eu errava o alvo.” Virgulino Ferreira da Silva. “Lampião”. Rei do cangaço (BANDOLEIRO) nordestino no início do século XX.

Desde que o mundo existe, os conflitos e a violência fizeram e continuam a fazer parte do povoamento e desenvolvimento, durante a expansão territorial no contexto sociocultural do ser humano, isso registrado em documentos, escrituras inseridas nas mais diversas civilizações e religiões, não que isso seja certo, longe de se fazer uma apologia à violência ou reverencia-la, mas infelizmente faz parte do cotidiano histórico da população no passado e presente, não diferente na fronteira os entreveros que no dicionário informal significa: (brigas, discussão, confusão, desavenças etc...), sempre foram marcas desta região.

            Em certo dia lá pelos idos de 1930 apareceu na região fronteiriça um viajante, pelas vestimentas só podia ser mais um do Rio Grande do Sul, este veio a se aventurar por estas terras, pela maneira de falar e de se portar logo ficou conhecido como “Barulho” um típico bandoleiro, mas o que é bandoleiro? Definido no dicionário sendo uma pessoa que não para em lugar nenhum anda de um lugar para o outro a procura de diversão.

            Neste período histórico muitos viajantes passavam pela região, como as comitivas e tropeiros para aqui fazer sua parada e negociar terras e suas mercadorias, a compra e venda era algo corriqueiro, principalmente de gado e cavalos, isso ocorria nos dois lados da fronteira.


“Nem todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.


Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto década de 40. Acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), que serviu no 11º Regimento de Cavalaria na cidade de Ponta Porã na década de 40, Cabo Itrio era um admirador da arte de tirar fotos, desta forma ao longo dos anos ele agregou ao seu acervo centenas de ricas imagens da região de fronteira. Esta imagem da fazenda de criação de gado na região do Maemi próximo a Rincão de Julho.   

No inicio Barulho” ficou conhecido na região como negociante de gado, cavalo e mercadorias, pegava empreitadas e sempre estava viajando, visto aqui ali como se diz na fronteira, hora ou outra tinha no lombo do cavalo um volume grande bem enrolado, mas com o passar do tempo descobriu que o mesmo vitimava os viajantes e tropeiros da região, e que os volumes que carregava no lombo do cavalo eram os corpos de suas vitimas.
Os corpos eram levados ao um poço localizado na região do “Rincão de Julho”, este poço ninguém ao certo sabe quem teria feito se o próprio “Barulho” ou se esse já existia, o fato que o poço era utilizado para ser depositado às vitima. Por anos “Barulho” estava realizando tal façanha trágica, envolvido em roubo de gado e cavalo, logo a fama de quatreiro (na língua espanhola se lê cuatrero, bandido, assaltante) se espalhou e o mesmo começou a ser perseguido pelas “Patrulhas volantes” da região fronteiriça.

Os estancieiros da região já algum tempo estavam desconfiados das atitudes de “Barulho”, que já começara a vitimar pessoas próximas do seu convívio dentro do seu circulo de conhecidos e amizades, como não existe crime perfeito um dos ataques de “Barulho” fracassou, pois foi recebido a tiros na pequena estância que era do seu compadre, o mesmo alegou que estava de visita, em uma hora meio estranha, por ser de madrugada, na calada da noite sem avisar e direcionada aos gados da estância.

Sem sucesso e para complicar mais a vida de “Barulho” este quatreiro, o famoso poço com os corpos fora achado por nativos (índios) da região, o alvoroço estava feito algumas dúzias de corpos, alguns a mais de anos, nem todos os corpos foram retirados pelo estado que se encontravam, o poço foi lacrado sendo este o tumulo para as vitimas, muitas delas desconhecidas, pois poderiam ser viajantes e tropeiros, que passavam pela região. A revolta tomou conta dos valentes da região, os estancieiros e a peonada juntaram forças e  formaram as “Patrulhas Volantes” para fazer a varredura e captura do “Barulho”, agora conhecido como bandoleiro e quatreiro sanguinário.

“Entre os ervateiros paraguaios sempre foi conhecida como patrulha bolante, Tanto do lado brasileiro como no lado paraguaio a sua missão era esta: prender se possível, ou matar, na fuga”. SEREJO, Hélio. Pialando... No Mas, p. 81.

Ponta Porã Linha do Tempo. Arquivo pessoal de Nilza Terezinha: Foto do acervo de seu pai Itrio Araújo dos Santos conhecido como (cabo Itrio), o mesmo era um admirador da arte de tirar fotos. Esta imagem estancieiros que formavam as famosas “Patrulhas Volantes” da região do Maemi nas proximidades de Rincão de Julho década de 40.

“Barulho” agora tinha ao seu encalço as “Patrulhas volantes” que certo dia reuniu mais de 200 homens valentes da região para realizar a caçada final ao temido “Barulho” o cerco se estendeu por toda região, a caçada foi árdua, pois quando avistava alguma “Patrulha Volante”, “Barulho” trocava tiros e conseguia se esgueirando escapar, (esgueirar é definido no dicionário como sair às escondidas sorrateiramente).

O desfecho da perseguição se deu perto da fronteira próximo a região de Potrero Ortiz. (Potrero definição dentro da língua espanhola El que cuida de los potros dehesa, lugar destinado a la cria y pasto de ganado cabalar), na região conhecida como “cipoal” (cipó nativo), segundo relato de quem sabe de tal história, já cansado pela fuga e praticamente cercado “Barulho” se enterrou em um lamaçal próximo a um alagado, deixando somente o nariz para fora assim poderia respirar, quando os volantes se aproximavam ele se enterrava mais para não ser notado e só tirava o nariz para fora quando percebia que a Patrulha já estava longe.

Achando que todas as “Patrulhas Volantes” já haviam passado, ele não imaginava que um dos volantes ficou para traz arrumando os arreios do cavalo já cansado de tanto cavalgar na captura do quatrero, “Barulho” se desenterrou da lama e se deparou com o volanteiro na sua frente ao tentar sacar seu revolver o mesmo sujo de lama falhou, algo que não aconteceu com arma do volanteiro que sem piedade ou remorso descarregou a munição no quatreiro que tombou no lamaçal, agora para nunca mais tirar o nariz ou se levantar da lama.

Com os pipocos que ecoaram por campo aberto os outros membros das Patrulhas volantes foram chegando, ao se depararem com o bandoleiro caído morto na lama, muitos tiros foram dados de aviso chamando as outras Patrulhas volantes, mas conta o causo que não eram dados somente tiros ao alto, mas no quatreiro agora sem mais esboçar reação.

Esse foi o fim do “Barulho” bandoleiro, quatreiro sanguinário, que como suas vitimas foi enterrado em algum lugar deste rincão, ali tombou e ficou sua história não é bonita de se contar, por décadas ficou adormecida, pois herói ele não foi, seu erro foi cobiçar o que não lhe pertencia e matar para conseguir seu objetivo, duvidou da bravura dos valentes da região dos filhos e pioneiros desta terra, que recebe quem chega de braços abertos, mas não tolera desaforo.

“Aos bravos pioneiros que desbravaram florestas e campos das terras que construíram o outrora extenso Município de Ponta Porã, aos que ali lutaram como autênticos heróis dos sertões contra todas as dificuldades e infortúnios, aos que não estudaram e aos que morreram de doenças comuns, porque nas lonjuras onde moravam não havia escolas nem médicos, aos que cruzaram campinas e matas abrindo trilhas que depois se transformaram em estradas para o progresso, aos que trabalharam muitas vezes em condições desumanas em ranchadas ervaterias, em fazendas sem conforto, para o enriquecimento da região e do Brasil”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 13.

Coragem marca dos bravos pioneiros da região fronteiriça de outros tempos, onde o respeito e a palavra empenhada eram marca do sobre nome de uma família, o fio do bigode valia mais que assinatura de pena e tinta, e o aperto de mão selavam os negócios da região e desonestidade e desonra era lavada com sangue.
Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação